OPINIÃO

A falta de sensibilidade no futebol 


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Nos últimos dias, vimos algumas situações inusitadas e, até certo ponto, bizarras no futebol brasileiro.
Foram 5 momentos ”nonsense”:

1) A discussão sem sentido de Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira, no encontro da Federação dos Treinadores Brasileiros, demonstrando xenofobia ao atual técnico da Seleção Brasileira, o italiano Carlo Ancelotti, falando na cara dele que não gostam de estrangeiros em nosso país. Ora, os próprios treinadores que defenderam “reserva de mercado” aos brasileiros, trabalharam diversas vezes no Exterior. E cá entre nós: Ancelotti, campeão por onde passou, não está agregando ao país? Lembremo-nos: Béla Guttmann, o húngaro que fugiu da opressão russa, treinou o São Paulo FC e influenciou o futebol do nosso país. Se a pessoa é competente, por que o preconceito?

2) A CBF anunciou o impedimento semiautomático para o Campeonato Brasileiro 2026. Ótimo, a tecnologia precisa nos ajudar, já que o VAR, AVARs e demais membros da cabine de vídeo não ajudam. Mas ao mesmo tempo, Cintra, o Chefe dos Árbitros, disse que a tão necessária Uniformização de Critérios da Arbitragem é utopia. Ora bolas, nos anos 2000, a FPF fez uma cartilha de uniformização e deu certo. Na Inglaterra, na Alemanha ou na Itália, idem. Por que não daria aqui? Falta treinamento e boa vontade da Comissão de Arbitragem para resolver esse problema.

3) Apresentou-se um primeiro modelo de Fair Play Financeiro ao nosso futebol. Excelente iniciativa! Entretanto, há pessoas desinformadas, alegando que isso vai impedir Palmeiras e Flamengo de “espanholizarem” o Brasil (se referindo a Espanha, onde Real Madrid e Barcelona, mais ricos, reinam). É exatamente o contrário: Fair Play Financeiro não é teto de gastos aos clubes, mas limite de despesas para quem não pode pagar as contas. Tanto o Verdão com o Mengão arrecadam muito e poderão gastar muito. Corinthians ou Santos, que têm elencos milionários, mas suas receitas não são suficientes para pagar as contas (e atrasam salários), estariam em sérios problemas com isso. Na França, o Lyon quase foi rebaixado para a Segunda Divisão por suas dívidas. O clube precisou vender o seu Departamento de Futebol Feminino a uma empresa interessada e repassar o Masculino a outro grupo econômico, saindo das mãos de... John Textor! Só assim, com dinheiro em caixa, pode permanecer na Primeira Divisão.

4) E o Neymar?

Após brigar com o árbitro, brigar com seu companheiro de time, brigar com o técnico por não querer ser substituído no Maracanã, teve seu nome ligado a uma manchete que dizia: “Neymar liga para Vojvoda e pede desculpas a todos”.  Quando li, pensei: “Muito bom, voltou à razão”. Só que não… Neymar publicou na Rede Social que isso era mentira de um “jornalista de m...” Não é uma maluquice? O correto era o pedido de desculpas, e ele não só deixou de fazê-lo, como ainda ofendeu o jornalista. Que oportunidade ele perdeu!


5) Por fim: a discussão dos julgamentos de Alan, Bruno Henrique e Vitor Roque, todos por motivos diferentes, mas turbinados pelas discussões promovidas pelos cartolas de Palmeiras e Flamengo. A propósito: no futebol profissional, jogador e seus parentes são proibidos de apostar em sites de apostas. Ninguém deu um toque ao Bruno Henrique? E o mesmo puxão de orelha deve ser dado a Vitor Roque, que publicou uma ilustração com sentido homofóbico velado, em tempos que isso não cabe mais (e que nunca deveria ter ocorrido), especialmente partindo de um jogador cujo empresário alega valer US$ 50 milhões...

De fato, o futebol brasileiro não é para amadores.

Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional

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