OPINIÃO

Mapas de esperança


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O Papa Leão XIII, em 28 de outubro, lançou a Carta Apostólica “Desenhando Novos Mapas de Esperança”. 

A reflexão não vale apenas para as escolas católicas, mas contribui para todo o processo educacional.
A carta apresenta alguns aspectos dolorosos como o de milhões de crianças, em todo o mundo, que ainda não têm acesso à escola primária devido a situações dramáticas de emergência causadas por guerras, migrações, desigualdades e diversas formas de pobreza.

Recordo-me de uma das integrantes da Magdala, que faleceu há dois meses. Foi alfabetizada na entidade pela Profa. Marilu Rodrigues Pessini de Castro. A alegria dela, ao conseguir ler o letreiro do ônibus, nos marcou. Antes, necessitava solicitar às pessoas do ponto se poderiam avisá-la quando viesse o do bairro onde morava. Fez a diferença. Tirou-a da humilhação. Naquela época deveria estar com 40 anos.

Inesquecível o filme “Central do Brasil” de 1998, em que Dora (Fernanda Montenegro), uma ex-professora, escreve cartas para analfabetos na histórica estação de trem do Rio de Janeiro.

No final da década de 60 e na de 70, eu escrevia as cartas para uma senhorinha que viera com a família de Limoeiro do Norte e não passara pela escola. Alegrava-me em poder ajudá-la em suas emoções e saudade que muito me cativaram, mas me doía que o desconhecimento da escrita, um direito de todas as pessoas,era para ela uma impossibilidade.

O Papa cita que em Roma, no século XVII, São José de Calazans, abriu escolas gratuitas para os pobres, percebendo que a alfabetização e a matemática são dignidade antes mesmo da competência.

E reafirmou o que disse na “Exortação Apostólica Dilexi te: “A educação é uma das mais altas expressões da caridade cristã. O mundo precisa dessa forma de esperança”.

Leão XIV se recorda do legado profético que lhe foi confiado pelo Papa Francisco, sendo sete os caminhos: colocar a pessoa no centro; ouvir as crianças e os jovens; promover a dignidade e a plena participação das mulheres; reconhecer a família como educadora primária; abrir-nos à inclusão; renovar a economia e a política a serviço das humanidade; proteger a nossa casa comum.”

Aos sete caminhos, acrescentou três prioridades. “A primeira diz respeito à vida interior: os jovens exigem profundidade; precisam de espaços de silêncio, discernimento e diálogo com a sua consciência e com Deus.  A segunda diz respeito à digitalização humana: educamos para o uso sábio das tecnologia e das IA, colocando as pessoas antes do algoritmo e harmonizando a inteligência técnica, emocional, social, espiritual e ecológica. A terceira diz respeito ao desarmamento e à paz desarmada: educamos para a linguagens não violentas, reconciliação, pontes, não muros...” E destaca que é necessário garantir o acesso aos mais pobres, apoiar famílias vulneráveis, promover bolsas de estudo e políticas inclusivas. 

Em vez de correntes, o Papa pensa em constelações, ou seja, em um entrelaçamento cheio de maravilhas e despertar. 

Na conclusão convida: “Sede servidores do mundo educativo, coreógrafos da esperança, incansáveis buscadores da sabedoria, criadores credíveis de expressões de beleza”.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista

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