CORRENDO PELO MUNDO

Jundiaiense concilia vida de mãe, catequista e maratonista

Por Luana Nascimbene |
| Tempo de leitura: 4 min
TOSHIO FOTÓGRAFO
O grande objetivo de Elisabete é competir nas seis maratonas mais tradicionais
O grande objetivo de Elisabete é competir nas seis maratonas mais tradicionais

A jundiaiense Elisabete Pereira Barbosa, de 45 anos, divide o tempo entre o trabalho como cozinheira autônoma, o cuidado com seus quatro filhos, o voluntariado na igreja e as maratonas internacionais. O que começou, há mais de duas décadas, como uma distração na esteira virou paixão, disciplina e exemplo de motivação.

Com mais de 70 participações em provas de corrida de rua no currículo, Bete decidiu se aventurar nas provas de longas distâncias, as tradicionais maratonas, com percursos de 42 quilômetros. E tudo começou em uma esteira da sua casa. “Eu sempre fui apaixonada por esportes, mas nunca me imaginava disputando corridas de rua e muito menos maratonas internacionais, e tudo isso aconteceu de forma natural. Aos 22 anos, quando tive meu primeiro filho, não conseguia mais sair para praticar exercícios com a mesma frequência de antes e ganhei de presente uma esteira do meu marido. E foi assim que começou a paixão pela corrida”, contou Bete.

Durante quatro anos, a jundiaiense correu só na esteira, apenas por hobby e para manter o corpo em atividade, até que um dia se mudou para o bairro Eloy Chaves e a proximidade com a Serra do Japi fez sua rotina mudar. “Fui fazer uma corridinha na Serra do Japi, no meio da natureza e me apaixonei mais ainda pela prática. Uma amiga que também corria comigo me convidou para uma corrida de rua, na 9 de Julho, e eu aceitei o desafio e ganhei, logo na estreia, minha primeira prova de 10 quilômetros”, disse a corredora.

Com o passar do tempo, as corridas já faziam parte da rotina da jundiaiense, que treina todos os dias às 5h e, em ciclos de maratona, onde a preparação para as provas dura cerca de três meses, Bete chega a correr mais de 100KM por semana, além de manter a dieta e o sono regrados. “Tem dias que a gente acorda mais cansada, mas quem quer dá um jeito. Levanto da cama, amarro meus cadarços e vou. E quando termino ainda penso ‘ainda bem que eu fui!’. Quando você começa o dia correndo, ele se torna maravilhoso, muda o humor, te dá alegria e disposição para viver. É uma terapia gratuita. A corrida cura”.

AS MARATONAS

Além das provas de curta distância, Bete também disputou meias-maratonas antes de conhecer as provas mais longas. “As maratonas eram um desafio que eu almejava muito. Sempre enxerguei como meu próximo passo nas corridas. Em 2019, ia disputar a minha primeira, em Florianópolis, mas a companhia aérea faliu na semana de embarque e eu perdi a oportunidade. Aí começou a pandemia e as maratonas pararam e, dois anos depois, quando eu finalmente iria correr, peguei covid dias antes da prova, mas em 2022 enfim saiu: corri em Florianópolis, completei a prova em 3 horas e 34 minutos e conquistei o índice necessário para disputar a maratona de Boston, a mais tradicional e cobiçada do calendário”, contou Bete.

A jundiaiense correu na maratona de Boston, conquistou vaga no Mundial de Sydney, na Austrália, mas como já estava com o planejamento em dia para a maratona de Chicago, no mesmo ano, e por razões financeiras, não conseguiu participar do mundial. “De Chicago eu conquistei o índice para Berlim e fui a única mulher da região de Jundiaí a disputar a prova. E foi a mais difícil da minha vida, pois a temperatura estava acima de 30 graus. Foi completamente desafiador”.

O grande objetivo de Elisabete é competir nas seis maratonas mais tradicionais do mundo, as chamadas Six Majors e, assim, completar o que os maratonistas chamam de “desafio da mandala”. Para gabaritar a lista, faltam apenas três: Nova Iorque, Londres e Tóquio.

DESAFIOS

Além das dificuldades de conciliar o trabalho como cozinheira autônoma, dona de casa, mãe de quatro filhos e voluntária de uma paróquia, Bete admite que não é fácil custear as maratonas sem ajuda de patrocinadores, por isso ela vende pães e doces para arcar com os gastos das viagens e hospedagens. “Como eu conquistei os índices para as maratonas que disputei, fico isenta das inscrições, mas mesmo assim não é nada barato competir. Tem todos os custos altos com vôos, hospedagens e alimentação. Por isso, como sempre trabalhei como cozinheira autônoma, vendo pães e doces e parte da renda vai para o cofrinho das maratonas”, explicou a jundiaiense.

Apesar da correria, Bete reforça sua paixão tanto pelas maratonas quanto pelos outros compromissos da vida. “Eu sou apaixonada pelo que eu faço. Eu amo meu trabalho na igreja e amo as maratonas. Se eu tivesse que escolher apenas um para fazer pelo resto da vida, não conseguiria decidir. Sou muito grata por ter a oportunidade e conseguir conciliar os dois. São correrias e batalhas da vida que valem a pena e tanto a fé em Deus quanto as corridas me proporcionaram coisas que eu nunca imaginava viver. Tive uma infância muito pobre e aos 42 anos entrei em um avião pela primeira vez, algo que sempre foi muito distante da minha realidade E hoje tenho a honra de viajar pelo mundo atrás das maratonas. Aproveito cada segundo”, disse, Bete.

Comentários

1 Comentários

  • Mônica De Melo Pieroni 09/11/2025
    A Bete é uma inspiração! Guerreira!