PROJETO DE LEI

Especialistas avaliam proposta da Lei Antifacção

Por Felipe Torezim |
| Tempo de leitura: 3 min
Tomaz Silva/ Agência Brasil
Lei Antifacção ganhou força após operação que deixou mais de 100 mortos no Rio de Janeiro
Lei Antifacção ganhou força após operação que deixou mais de 100 mortos no Rio de Janeiro

O Governo Federal enviou ao Congresso Nacional, na última semana, o Projeto de Lei Antifacção. A proposta, que tramita em regime de urgência, foi encaminhada poucos dias após as operações policiais no Rio de Janeiro, que resultaram em mais de 100 mortes no Complexo da Penha e no Complexo do Alemão, e deve ser votada nas próximas semanas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. O avanço do projeto repercutiu entre profissionais da segurança pública de Jundiaí e Região, que consideram um avanço importante no combate ao crime organizado, mas ainda carece de ajustes.

O texto cria o tipo penal de “organização criminosa qualificada”, com penas de 8 a 15 anos de prisão para integrantes ou colaboradores de grupos com domínio territorial e envolvimento em atividades ilícitas. Também transforma em crimes hediondos os homicídios praticados em nome ou benefício de facções, com penas de 12 a 30 anos e sem possibilidade de indulto, anistia ou fiança. Ainda há pontos como o bloqueio e confisco antecipado de bens e contas, a intervenção judicial em empresas ligadas ao crime, e a destinação do patrimônio apreendido ao Fundo Nacional de Segurança Pública.

A proposta também amplia a integração entre a Polícia Federal e as forças estaduais, com um sistema nacional de cooperação e compartilhamento de informações.

A secretária de Segurança Pública de Várzea Paulista e coronel da PM, Carla Basson, destaca que o tema é sensível e que, embora a proposta traga melhorias, há aspectos que precisam de revisão. “Há pontos positivos, como a conceituação de ‘facção criminosa’, as penas mais severas e o confisco de bens, mas também gargalos que precisam ser ajustados”, analisa.

Segundo a coronel, a iniciativa pode contribuir para aperfeiçoar as ações das forças de segurança, mas sua efetividade dependerá da aplicação prática e da integração entre os órgãos de justiça e segurança. “Se as leis fossem cumpridas ao que se propõem, não haveria necessidade de novas regulamentações. O texto aperfeiçoa o combate, mas ainda traz entraves, como a possibilidade de redução de pena para integrantes primários com bons antecedentes, o que pode gerar interpretações divergentes e, em certos casos, beneficiar criminosos”, observa.

Já o vereador e policial civil Leandro Basson reforça a necessidade de firmeza no enfrentamento ao crime organizado, mas defende que o texto preserve as garantias constitucionais. “O combate às facções criminosas é urgente e indispensável para a segurança nacional. No entanto, é fundamental que qualquer legislação preserve o equilíbrio entre o fortalecimento das forças de segurança e o respeito às garantias constitucionais”, afirma.

Para ele, o país precisa de uma lei dura, justa e aplicável na prática, que una rigor penal a estratégias de inteligência e cooperação federativa. “O enfrentamento ao crime precisa ser firme, mas também tecnicamente bem estruturado, com clareza sobre responsabilidades e mecanismos eficazes de punição e prevenção”, defende o parlamentar.

O mestre em História e Cientista Social, André Ramos Ielo, lembra que as organizações criminosas são estruturadas como empresas, com hierarquia, departamentos, planos de negócios e expansão e avalia que a Lei Antifacção ajuda no combate ao crime justamente nessa espinha dorsal. “Ela tenta estrangular o seu financiamento, seus contatos, incentiva o uso de inteligência por parte das forças de segurança, e cooperação entre Federação e estados com troca de informações e trabalho em conjunto”, diz. 

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