A mãe, depois da filha de quase cinco meses dar o último suspiro, escreveu no status do WhatsApp: “Vou lembrar de você assim minha Sarah Maitê. Muito obrigada por aceitar que fosse sua mãe. Está doendo muito, minha filha. Você me ensinou muita coisa nessa jornada de sua vida, meu anjo da guarda”. E no dia do velório: “Ai, minha menina, você toda de branco parece uma princesa, filha! Vai chegar lá no Céu toda bela, filha, como você é, minha pequenina Maitê. Mamãe pegou você no colo, deu muitos beijos e conversou com você, como nós fazíamos sempre, né, minha menina?! Não queria que esse colo fosse o último, mas como a mamãe falou é um até logo. (...) Te amo, minha filha, sempre vou amar você. Só queria que fosse tudo sonho, não realidade, mas vou estar aqui, viu?”
Da esperança que se firmava, o susto da parada cardíaca sem retorno da pequenina.
Conheci a Maitê em janeiro na barriga da mãe. Sua irmãzinha me pediu uma vaga na Casa da Fonte. Na última ecografia, detectou-se o problema de coração. Cardiopatia grave. Do hospital para a casa e da casa para o hospital. Em momento algum ouvi a mãe reclamar, nem do atraso para fazer a Certidão de Nascimento. Gratidão, Dr. José Luiz Laurindo da OAB. Também não dizia de cansaço em espaços diminutos da emergência, da condução...E a bebê, com incômodos: cateter, acessos, jejum, sorria o tempo todo. É gente de situação financeira reduzida. Importava era a bebê sobreviver.
Um amor tão intenso da mãe, da tia, da irmãzinha, das primas...
Na segunda, 20/10, cirurgia no INCOR. Um dos exames impediu. Na terça, saiu do jejum. Na quarta, um novo estudo e a parada cardíaca, cujos procedimentos não lhe devolveram o respiro.
A mãe escreveu no dia do velório: “Não entendemos a dor, mas dói. Estou sentindo um vazio imenso. Por que o Senhor permitiu que ela partisse? Ela veio em missão. Ela me mostrou o amor e bastante coisa”.
Tornei-as presença na vida de algumas pessoas que são do meu convívio e de preces. Madre Maria Madalena de Jesus Crucificado escreveu: “Teve o tempo que Deus desejava para ela. Estava prontinha para o Céu. O coração dela agora bate em Deus e nunca mais irá parar de bater”. Padre Márcio Felipe de Souza Alves comentou: “Tinha esperança de que ela ficasse curada. Mas tenho certeza de que Deus a curou e irá curar as feridas que ficam nos corações de tantas pessoas por causa dela. Precisamos confiar no Senhor e pedir a Ele para não nos permitir sair do caminho das Cruz”.
No velório, com a roupa do Batismo e coroa na cabeça, parecia uma princesa. A mãe questionou o porquê de não poder trocar o seu coração com o dela. Poderiam cortar para adaptá-lo.
O Padre Jean-Marie comentou que a Cruz permanece aberta e nela existe um pedaço nosso. Essa história, sem dúvida, está lá para a Ressurreição.
Domingo passado, na Missa no Carmelo São José, o Padre Paulo Eduardo Ferreira de Souza, comentou que Deus tem um fraco pelos pobres e que as lágrimas dos sofredores escorrem também em Seu rosto.
A história da Sarah Maitê com seus familiares e amigos próximos me ensinou mais de amor-delicadeza. Sua doença e partida fazem parte dos mistérios aos quais teremos acesso somente na Eternidade.
Menina do Céu, deixou nos olhos da mãe o seu olhar com brilho de estrela.
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista