OPINIÃO

Obesidade: busque soluções reais!


| Tempo de leitura: 3 min

A obesidade é uma das maiores epidemias do nosso tempo. Nunca se falou tanto em medicamentos para emagrecer, como aquelas  famosas “canetinhas” que viraram sinônimo de promessa rápida de emagrecimento? Elas realmente reduzem o apetite e podem levar à perda de peso, é fato, mas é justamente aí que mora a armadilha: muitas vezes perde-se muito músculo, não apenas a gordura. E essa diferença muda tudo.

Quando falamos em saúde, o objetivo não deve ser apenas ver o número da balança diminuir. Um corpo pode pesar menos, mas estar metabolicamente mais frágil. Isso acontece porque, quando o emagrecimento ocorre de forma rápida e sem um programa de exercícios e alimentação adequados, boa parte do que se perde é a massa magra: músculos, ossos, tecidos de sustentação.

O resultado? Um metabolismo mais lento, maior risco de recuperar o peso perdido e um corpo que, apesar de mais leve, está mais frágil. A verdadeira meta é perder gordura, sobretudo a visceral, que se acumula na região abdominal e está diretamente associada a doenças graves como diabetes tipo 2, hipertensão, infarto e até alguns tipos de câncer. Mas com canetinhas é preciso muita atenção: associar exercícios e dieta com supervisão.

É justamente nesse ponto que entra a importância dos músculos. Muita gente ainda acredita que eles servem apenas para a estética ou para a força física, mas a ciência já mostrou que o músculo é um verdadeiro órgão endócrino (já escrevi sobre isso para vocês!). Durante o exercício, o tecido muscular libera miocinas, substâncias que funcionam como “hormônios do bem”, capazes de reduzir a inflamação, melhorar a sensibilidade à insulina, aumentar a queima de gordura e até modular o humor.

O obeso, no entanto, tem o músculo infiltrado por gordura, o que reduz sua capacidade funcional. Por isso, não basta perder peso: é preciso preservar e construir massa muscular, porque ela é um verdadeiro escudo contra o adoecimento.

Outro erro que atravessa décadas é a velha pirâmide alimentar, um modelo ultrapassado que ensinou gerações a basearem sua alimentação em carboidratos refinados como pães, massas e cereais processados, deixando proteínas de lado. O resultado está aí: mais obesidade, mais diabetes, mais doenças metabólicas.

Hoje sabemos que a base da alimentação deve ser composta por proteínas de qualidade, vegetais ricos em fibras, gorduras boas, hidratação adequada e alimentos minimamente processados. Açúcar e farinhas não podem mais ocupar o pedestal da dieta, sob risco de perpetuarmos a epidemia que já temos.

No caminho da mudança de estilo de vida, o exercício físico é insubstituível. E quando falamos em estratégias para perda de gordura, o HIIT (treinamento intervalado de alta intensidade) se mostra uma ferramenta poderosa, segundo os estudos. Em treinos curtos e intensos, o corpo acelera o metabolismo, queima calorias durante e após o exercício e melhora a saúde cardiovascular. Quando associado ao treino de força, o resultado é o cenário perfeito: aumento de massa muscular, redução de gordura e melhora global da saúde metabólica. Sob orientação, claro!

Mas há ainda um pilar frequentemente esquecido: o sono. A privação de noites reparadoras desregula hormônios como leptina e grelina, responsáveis pela sensação de saciedade e fome. Dormir mal aumenta o cortisol, o hormônio do estresse, e favorece o acúmulo de gordura abdominal. Ou seja, não adianta treinar e comer bem, usar as canetinhas, se o sono não for respeitado. Ele é tão essencial quanto a alimentação equilibrada e o movimento.

O recado é simples e direto: não existe solução mágica. As “canetinhas” podem até auxiliar em casos específicos e sob prescrição médica, mas devem respeitar a boa qualidade de vida para dar resultado e jamais substituirão o que realmente transforma: alimentação consciente, treino de força, treinos aeróbicos, prática regular de HIIT, noites bem dormidas e uma verdadeira mudança no estilo de vida.

O objetivo não é apenas emagrecer, mas conquistar vitalidade, preservar a saúde, reduzir riscos e ganhar anos de vida de qualidade. Obesidade não se trata com atalhos, e sim com escolhas consistentes que fazem do corpo um aliado, e não um fardo. Muita saúde a todos.

Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil 

Comentários

Comentários