OPINIÃO

Cuidar dos pais é um privilégio


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Em uma sociedade que valoriza tanto a produtividade e a juventude, o envelhecer ainda é visto por muitos como sinônimo de perda. E, junto a isso, o ato de cuidar dos pais idosos acaba sendo interpretado como um peso, um sacrifício que rouba tempo, liberdade e rotina. Mas cuidar não é fardo e sim retribuição, é laço, é amor traduzido em presença.

Cuidar dos pais é um dos gestos mais humanos e simbólicos que podemos viver. São eles que um dia nos ensinaram a andar, a falar, a enfrentar o mundo. Quando a vida os torna mais lentos, quando a memória falha ou o corpo exige ajuda, é a nossa vez de estender a mão. E, ao contrário do que muitos imaginam, esse ciclo não é triste: é natural, e pode ser profundamente belo.

O cuidado familiar, aquele que acontece dentro de casa, com afeto e paciência, tem um poder que nenhum serviço profissional substitui. Ele preserva vínculos, fortalece memórias e dá sentido ao envelhecer. A presença dos filhos, o toque, a escuta e o carinho transformam o dia a dia do idoso e ajudam a manter viva a chama da dignidade.

Claro, não se trata de romantizar o cansaço. Cuidar exige tempo, organização e equilíbrio emocional. Muitos filhos se desdobram entre trabalho, casa e as demandas do cuidado. Por isso, é essencial que a sociedade e o poder público ofereçam suporte real aos cuidadores familiares, com orientações, espaços de acolhimento e políticas que reconheçam esse papel como parte essencial da saúde e da cidadania.

Mas é preciso mudar o olhar. Não é fardo cuidar de quem cuidou de nós. É oportunidade. É a vida nos devolvendo a chance de retribuir o amor recebido. É o tempo, tantas vezes impiedoso, nos permitindo um reencontro: filhos e pais novamente juntos, trocando papéis, redescobrindo o significado do afeto.

Em Jundiaí, onde o envelhecimento populacional cresce a cada ano, o tema merece espaço e reflexão. Precisamos falar mais sobre o cuidado como gesto de humanidade, não de obrigação. Porque, no fim das contas, ninguém quer apenas ser cuidado, quer ser amado, lembrado e valorizado.

Cuidar dos pais é um ato de gratidão. É dizer, com atitudes e silêncios: “Agora sou eu quem segura sua mão”. E isso, definitivamente, não é um fardo é um privilégio que o tempo nos concede.


Edvaldo de Toledo é empresário, enfermeiro, especialista em Gerontologia e Geriatria, apresentador do IssoPodAjudar e criador da Cuidare Home Care 

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