OPINIÃO

Economia global: desafios para o crescimento


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A economia mundial atravessa um período de transição marcado por incertezas, mudanças nas regras do comércio internacional e desafios estruturais que afetam diretamente as perspectivas de crescimento global, que estão mais modestas. Segundo o relatório World Economic Outlook de outubro de 2025, publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o cenário atual exige uma recalibração das políticas macroeconômicas diante do aumento do protecionismo, da fragmentação comercial e da instabilidade institucional.

A principal causa da desaceleração, segundo o FMI, está no aumento do protecionismo. Desde que os Estados Unidos elevaram tarifas de importação, em fevereiro de 2025, as cadeias globais de produção foram afetadas, o que reduziu o ritmo de expansão e aumentou a volatilidade dos mercados. Apesar de alguns acordos terem amenizado os impactos, o ambiente econômico mundial permanece instável. O crescimento global, que havia sido revisado para baixo no primeiro semestre, deve fechar 2025 em 3,2%, recuando em relação aos 3,3% de 2024. Para 2026, a projeção é de 3,1%.

Os países avançados devem crescer, em média, 1,5% entre 2025 e 2026, com os Estados Unidos desacelerando para 2%. Já as economias emergentes devem manter expansão um pouco acima de 4%, sustentadas por um desempenho ainda sólido da Ásia e pela estabilidade dos preços das commodities. Ainda assim, o relatório destaca que a América Latina segue vulnerável à queda nos fluxos de comércio e aos riscos fiscais. Para o Brasil, o FMI estima crescimento de 2,4% neste ano.

A inflação global tende a recuar de 4,2% em 2025 para 3,7% em 2026, com comportamento distinto entre regiões: persistente nos EUA, moderada na Europa e baixa na Ásia. O volume do comércio mundial, por sua vez, crescerá 2,9%, ritmo inferior aos 3,5% de 2024, refletindo o aumento das barreiras tarifárias e não tarifárias.

O FMI destaca que as condições financeiras se tornaram mais frágeis. O aumento dos custos de endividamento, aliado à expansão fiscal em várias economias, acende o alerta para a sustentabilidade das dívidas públicas. O relatório também menciona o risco de uma correção brusca nos mercados de tecnologia, caso os ganhos de produtividade prometidos pela inteligência artificial não se confirmem.

O eventual estouro de uma bolha de IA poderia encerrar o boom atual e abalar a confiança dos investidores.

Para enfrentar esse cenário, o FMI recomenda ações políticas claras, previsíveis e sustentáveis. Entre elas, modernização das regras comerciais para a era digital, fortalecimento da cooperação multilateral e combinação de diplomacia comercial com ajustes macroeconômicos. A consolidação fiscal deve ser realista e equilibrada, com medidas temporárias e bem direcionadas. A independência dos bancos centrais deve ser preservada para garantir credibilidade e estabilidade de preços.

Por fim, para elevar o potencial de crescimento,o relatório destaca a importância de reformas estruturais, como incentivo à mobilidade laboral – a redução da imigração afeta os países desenvolvidos cuja população é mais velha –, incentivo a maior participação na força de trabalho, digitalização e fortalecimento institucional. Países de baixa renda, diante da queda na ajuda externa, devem mobilizar recursos domésticos por meio de melhorias na governança e administração pública. Em tempos de incerteza, o planejamento de cenários e políticas pré-definidas podem  garantir respostas eficazes e oportunas.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP

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