OPINIÃO

O fio desencapado da paisagem urbana


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Entre os muitos tipos de poluição que se combatem nas grandes cidades — a do ar, a sonora, a dos resíduos, a das águas — há uma que raramente ocupa o centro das discussões, embora afete diretamente a qualidade de vida urbana: a poluição visual. Ela é, talvez, a mais silenciosa das agressões ao espaço público. Desorganiza o olhar, gera cansaço, confusão e um permanente sentimento de desordem.

Nesse contexto, a Prefeitura de São Paulo aprovou, no mês passado, uma lei que estabelece regras mais rigorosas — e multas pesadas — voltadas à organização da cidade e, especialmente, ao enfrentamento da poluição visual. A penalidade para pichações, por exemplo, passou a ser de R$ 10 mil por dia. A nova norma também prevê medidas contra cartazes irregulares e para veículos abandonados em vias públicas.

Mas o ponto que mais chama a atenção é a criação de multas para concessionárias que mantiverem cabeamentos sem uso nos postes da cidade: R$ 50 mil por dia, aplicados a cada lado do quarteirão.

Trata-se de uma medida inédita, pois atinge uma das principais causas da poluição visual: o emaranhado de fios que cobre nossas ruas e sufoca a paisagem urbana.

Quem já visitou uma cidade onde a fiação é subterrânea sabe a diferença. O cenário parece outro — limpo, harmônico, até mais civilizado. O olhar respira. A arquitetura se revela. É claro que enterrar toda a fiação é um processo de altíssimo custo e execução complexa, mas há um caminho intermediário: retirar o que não serve mais.

As concessionárias, ao instalar novos cabos, frequentemente abandonam os antigos, criando uma rede caótica que se deteriora sobre os postes. Essa prática persiste porque é mais barato deixar o fio pendurado do que removê-lo. O resultado é um emaranhado permanente, feio e perigoso, que compromete o visual das cidades.

A iniciativa do prefeito Ricardo Nunes é um exemplo importante. Mostra que é possível agir com firmeza e cobrar responsabilidade das empresas. Mais do que uma questão estética, trata-se de zelar pela ordem, pela segurança e pelo bem-estar coletivo.

Em Jundiaí, a situação é semelhante. Existe lei que obriga as empresas a retirarem fios sem uso dos postes, mas ela nunca saiu do papel. Nenhuma ação efetiva foi tomada, e o problema se agrava a cada nova instalação. No entanto, é perfeitamente possível melhorar. Nada impede que o poder público convoque as concessionárias, estabeleça prazos, firme acordos e promova um plano conjunto de limpeza visual

A lei de São Paulo, mesmo que ainda precise provar sua eficácia, cumpre um papel relevante: envia uma mensagem clara de que é possível e necessário recuperar a harmonia das cidades. Afinal, o espaço urbano também é um espelho da nossa civilidade.

Francisco Carbonari é ex-secretário de Educação de Jundiaí

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