OPINIÃO

O desafio de reinventar o Centro Histórico


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Salvar o centro da cidade não é um sonho nostálgico — é uma necessidade urgente. O coração histórico de Jundiaí pulsa cada vez mais fraco, cercado por desafios que vão muito além da estética urbana. A degradação não é apenas física, mas também social, econômica e simbólica de um local que sempre foi o lugar do encontro, da convivência, da circulação de ideias e oportunidades. Quando ele adoece, toda a cidade sente os sintomas.

Mas a boa notícia é que há caminhos — e eles passam, necessariamente, pela ação conjunta entre o poder público e a iniciativa privada. Nenhum dos dois conseguirá, isoladamente, dar conta da complexidade que envolve o Centro Histórico. É preciso ousar, inovar e, sobretudo, cooperar.

Há quase vinte anos, a gestão de Miguel Haddad mostrou que isso é possível. O projeto de revitalização de então retirou postes, enterrou fios e redesenhou o calçamento de parte da região. Foi uma intervenção corajosa, que devolveu dignidade às ruas e reacendeu o orgulho de pertencer à cidade. Depois, na gestão de Ary Fossen, veio o incentivo à valorização das fachadas — outro gesto de cuidado com a identidade urbana. O tempo passou, mas o espírito de inovação que guiou essas transformações precisa ser recuperado.

Hoje, o desafio é outro, mas a lógica é a mesma: repensar o Centro Histórico como um espaço vivo, diverso e acolhedor. Para isso, não bastam medidas paliativas ou eventos esporádicos. É necessário um plano integrado que una mobilidade, cultura, segurança, limpeza, habitação e inclusão social.

Algumas ideias são concretas e possíveis. A criação de uma área gastronômica na Praça Governador Pedro de Toledo, por exemplo, pode trazer movimento e atrair investimentos. A implantação de bolsões de estacionamento nas extremidades do centro histórico, aliada à ampliação das áreas caminháveis, tornaria o fluxo mais inteligente e humano. A coleta de lixo precisa ser mais frequente — ao menos duas vezes por dia, manhã e fim de tarde — para garantir um ambiente limpo e convidativo também às noites para quem ali passa e mora (ou resiste).

A revitalização também depende de atenção aos mais vulneráveis. O cuidado com a população em situação de rua deve ser prioridade, com políticas de atendimento digno e soluções estruturadas. Isso inclui orientar pessoas e entidades que distribuem alimentos, para que o façam em locais com mais estrutura e acompanhamento social.

Outro eixo essencial é o estímulo ao retorno de escritórios, serviços e pequenos comércios. A região precisa voltar a ser lugar de trabalho e convivência, não apenas de passagem. Quando há vida econômica, há também segurança e vitalidade urbana.

Revitalizar o centro é um ato de coragem — e, mais do que isso, um compromisso com o futuro. Exige que a gestão pública não tema inovar e que a iniciativa privada veja além do curto prazo. A cidade precisa de um pacto de cooperação, onde cada um assuma sua parte na reconstrução desse espaço que guarda nossa memória e pode, ainda, ser símbolo de uma nova etapa de prosperidade.

Se o poder público e a sociedade caminharem juntos, o centro voltará a pulsar. E não como um relicário do passado, mas sim como retrato vivo de uma cidade que acredita em si mesma.

Samuel Vidilli é cientista social (svidilli@gmail.com)

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