Tenho acompanhado as discussões e impressões do grupo dos comerciantes do Centro de Jundiaí, tudo em prol da revitalização da região central. E vou dizer: é uma coisa linda de ver. Todos unidos para melhorar o local. Outro dia mesmo eu ri quando um comerciante, ao amanhecer, descobriu que a rua tinha sido limpa, que não havia lixo nas ruas, nem mesmo as marmitas comidas do dia anterior estavam no chão, como costumeiramente fica. Parece engraçado que a gente fique feliz com o que deveria ser habitual.
Da mesma forma, foi uma alegria receber D. Edna, presidente do Clube 28 setembro, o clube mais longevo do estado, para uma conversa no Podcast JJ. Ela também me disse que gostaria de ocupar a Praça da Bandeira para fazer as atividades do clube em prol de toda a sociedade. E olha que me contaram que a feijoada de D. Edna é a melhor de toda a região. Imaginem o samba invadir a Praça da Bandeira e levar alegria às noites jundiaienses.
Já contei aqui que minha mãe participava do footing da Pauliceia, em que jovens iam para a praça da Catedral - andando em um sentido - para ver os moços que andavam em sentido contrário. A sessão de cinema semanal sempre garantida, nos antigos Marabá e Ipiranga. Para os mais politizados, o cafezinho e - mais tarde - o uísque da Pauliceia - de onde se sabia da cidade, das ações do executivo e legislativo e da vida alheia. E olha que ninguém reclamava de ruído após as 22h! Hoje, Jundiaí, à noite, parece um túmulo.
Eu cheguei a ir muitas vezes aos cinemas de rua e sinto saudades! Para quem não gosta de shopping lotado, aquilo era uma delícia...
Sei como tem sido trabalhoso costurar esta revitalização do Centro e tomara que ela saia com profundo respeito ao patrimônio histórico e cultural tombado. Mas, sem nada modernista, nossa cidade merece levar vida ao centro histórico, respeitando também a vida dos seus transeuntes habituais, em situação de vulnerabilidade.
Eu gosto de andar por ali e lembrar de uma Jundiaí de outrora. Fico imaginando como eram os quintais, como as mulheres se vestiam e como essa cidade foi se expandindo para além do viaduto.
Para mim, era uma Jundiaí de olfato e sabores - da Turbaína ainda de garrafa de vidro, comprada para o almoço sagrado na casa dos avós, na rua Prudente de Moraes. Da comida maravilhosa e farta de D. Lourdes, minha avó, que nunca se esquecia de alimentar também e orar para aqueles que apareciam em sua porta. Devota de Nossa Senhora, para ela, cada mendigo era um enviado de Deus. Perdemos civilidade, humanidade e a sensação de pertencermos a uma comunidade.
Para quem leu minha última coluna e me honrou com seus elogios, meu muito obrigada. O cidadão jundiaiense não pode ficar omisso à falta da política pública para nossas crianças. Quem não cuida dos pequenos não terá futuro algum. Tomara que a Justiça e a CPI - aberta pela Câmara de Jundiaí - tenham sucesso e possam corrigir os rumos deste nosso descaso com a vida.
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, administração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ