Vocês imaginam o que acontece com nosso corpo quando começamos a caminhar, pedalar, correr ou nadar, por exemplo? Um simples exercício aeróbico de 45 a 60 minutos desencadeia uma verdadeira revolução fisiológica. O coração acelera, os pulmões trabalham mais, os músculos consomem energia, hormônios são liberados e até o cérebro entra nesse processo maravilhoso. É como se todo o organismo se organizasse para sustentar o movimento, e cada sessão de exercício se tornasse uma oportunidade de transformação rumo a uma saúde melhor.
Logo nos primeiros minutos, o coração aumenta sua frequência de batimentos. Esse aumento não é aleatório: ele responde à necessidade dos músculos de receber mais oxigênio e nutrientes. Quanto mais eficiente for esse transporte, mais energia o corpo terá para continuar se movendo. Com a prática regular, o coração sofre adaptações importantes, tornando-se mais forte e eficaz. Isso significa que, em repouso, ele precisa de menos batidas para bombear a mesma quantidade de sangue, o que reduz o desgaste cardíaco e nos protege contra doenças cardiovasculares.
Ao mesmo tempo, os pulmões intensificam o trabalho da respiração. Cada inspiração leva mais oxigênio para os alvéolos pulmonares, que são pequenas estruturas responsáveis pela troca de gases. Ali, o oxigênio entra no sangue e o gás carbônico, produzido pelos músculos durante o esforço, é eliminado. Essa mecânica, repetida minuto a minuto, faz com que a respiração se torne mais eficiente ao longo do tempo. Pessoas que praticam exercício aeróbico com frequência percebem que ganham mais fôlego, conseguem sustentar a atividade por períodos maiores e sentem menos cansaço em tarefas do dia a dia.
Nos músculos, acontece uma verdadeira fábrica de energia. Inicialmente eles utilizam o glicogênio, uma forma de carboidrato armazenada no fígado e nos músculos. À medida que o exercício se prolonga, o corpo passa a quebrar a gordura para produzir energia, um processo altamente benéfico tanto para o controle do peso quanto para a melhora da saúde metabólica. Esse uso mais eficiente de oxigênio e energia fortalece as fibras musculares e favorece o desenvolvimento das mitocôndrias, as “usinas” de energia celular. Guardem esse nome: mitocôndrias, pois abordarei este assunto nos próximos artigos.
Durante a contração muscular no exercício aeróbico, forças mecânicas são transmitidas até a membrana das células musculares, ativando proteínas chamadas integrinas. Elas funcionam como sensores que convertem o estímulo mecânico em sinais bioquímicos dentro da célula, um processo conhecido como mecanotransdução. Essa comunicação desencadeia a liberação de substâncias anti-inflamatórias, melhora a sensibilidade à insulina e regula o funcionamento do sistema imunológico. O simples ato de se movimentar envia mensagens positivas para todo o corpo, mostrando que o movimento não é apenas mecânico, mas também um potente sinal de saúde e equilíbrio.
Durante a atividade física, uma cascata de hormônios e neurotransmissores é também liberada, criando o famoso “barato do exercício”. Quem nunca sentiu tem que experimentar! A adrenalina aumenta a disposição e a concentração. A endorfina reduz a percepção de dor e traz prazer. A serotonina e a dopamina elevam o humor, combatem a ansiedade e ajudam no equilíbrio emocional. É por esse motivo que tantas pessoas relatam sair de uma corrida, pedalada ou caminhada com a sensação de leveza e clareza mental. Não é coincidência: é pura fisiologia. E vicia... um vício do bem!
Enquanto o corpo trabalha, a temperatura aumenta e a transpiração cumpre a função de resfriar o organismo. A circulação sanguínea acelera, levando nutrientes para cada célula e ajudando na remoção de substâncias resultantes do esforço. Já na fase de recuperação, que se inicia logo após o término da atividade, o corpo continua em ritmo acelerado: repõe os estoques de energia, repara microlesões musculares e fortalece o sistema imunológico. É nesse momento também que ocorrem as adaptações de longo prazo, como a redução da pressão arterial, o equilíbrio dos níveis de colesterol, o melhor controle da glicemia e o aumento da capacidade de resistir a esforços futuros.
Essas mudanças não ficam restritas ao corpo físico. O cérebro, estimulado pela circulação sanguínea aumentada e pelos hormônios liberados, apresenta melhora cognitiva, mais memória, concentração e qualidade no sono. Além disso, os efeitos do exercício regular são comprovadamente associados à redução do estresse, à prevenção da depressão e ao aumento da longevidade. Em outras palavras, movimentar-se é uma forma simples e acessível de cuidar da saúde de maneira integral.
Portanto, em apenas 45 a 60 minutos de atividade aeróbica, o corpo passa por uma sinfonia de transformações fisiológicas que vão muito além do suor. São adaptações que protegem o coração, fortalecem os pulmões, otimizam o funcionamento dos músculos, melhoram o humor e trazem vitalidade. Cada treino é um presente para si mesmo, um investimento no presente e no futuro. A ciência comprova o que muitos já sentem na prática: o movimento é uma das ferramentas mais poderosas que temos para viver com mais energia, equilíbrio e saúde. Muita saúde a todos!
Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)