Com o passar dos anos, Jundiaí vem se tornando uma cidade cada vez mais cara e isso fica mais evidente no pós-pandemia. Um dos fatores que contribuem fortemente para isso é a habitação. De acordo com o setor, isso se deve ao alto valor do terreno no município, o que faz com que os empreendimentos mais econômicos não sejam viáveis sem subsídios. O preço médio do imóvel vendido em Jundiaí em 2024 foi de R$ 568.947, 68% maior que a média de 2021, de R$ 337.722.
Dados do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis (Secovi) mostram que, em 2021, foram vendidas 2.916 unidades habitacionais em Jundiaí, sendo 28% com valor menor do que R$ 230 mil, 58% custando entre R$ 230 mil e R$ 500 mil, 12% entre e R$ 500 mil e R$ 750 mil e 2% acima de R$ 900 mil, ainda com um hiato de nenhuma venda na faixa de R$ 750 a R$900 mil. 31% dos imóveis tinham perfil mais barato e 69% de outros mercados.
Já no ano passado, foram 1.900 unidades vendidas. 45% dos imóveis estavam no Minha Casa, Minha Vida e os demais pertenciam a outros mercados. Em relação à fatia de mercado, não houve venda de imóvel custando menos de R$230 mil, 59% custaram entre entre R$230 mil e R$500 mil, 14% estava na faixa de R$500 mil a R$750 mil, 8% entre R$ 750 mil e R$ 900 mil e 19% acima de R$ 900 mil.
No ano passado, a faixa de preço mais procurada foi a de R$ 230 mil a R$ 500 mil. Esse valor se enquadra nas faixas 2, 3 e 4 do Minha Casa, Minha Vida. Para as famílias, representa as que têm renda bruta mensal de R$ 2.850 a R$ 12 mil. Para a faixa 1 e parte da faixa 2, em que imóveis podem custar até R$ 190 mil e R$ 264 mil, respectivamente, há dificuldade de encontrar imóvel em Jundiaí.
Segundo o vice-presidente de Comercialização e Inteligência de Mercado da Associação de Empresas e Profissionais do Setor Imobiliário de Jundiaí e Região (Proempi), regional do Secovi, Eli Gonçalves, o preço da terra em Jundiaí faz com que as incorporadoras foquem nos segmentos mais caros.
“Há realmente uma predominância de empreendimentos de padrão médio-alto e alto. Isso está acontecendo desde 2023, essa alta representatividade do perfil médio-alto e alto. Na verdade, a gente precisa, inclusive, de mais lançamentos Minha Casa, Minha Vida, não só da faixa 3, que é o que tem saído, já no limite, entre R$ 320 mil, 350 mil, mas a gente precisaria muito de lançamentos na faixa 2, que vai até 264 mil e que atende a renda [familiar] de R$ 4 mil até R$ 5 mil. Esse é o público que precisa ser trabalhado, mas é difícil, porque envolve a compra de terreno barato”, explica Eli.
O especialista diz que a faixa 1 está ainda mais distante da realidade de preços de Jundiaí. “Se for falar de faixa 1, a gente precisa necessariamente da ajuda, tanto do poder federal - com a parte de subsídio - quanto do poder estadual - através do programa Casa Paulista -, além do governo municipal, com doação de terreno. A gente precisa de tudo isso para poder viabilizar aquela faixa 1, onde a pessoa tem a maior parte do imóvel paga pelo poder público.”
A pressão dos juros
A taxa Selic no Brasil é de 15% ao ano atualmente. Com os juros altos, a compra de imóveis acaba comprometida, pois muitas pessoas dependem do financiamento. Segundo Eli Gonçalves, “a aquisição de um imóvel pronto exige, geralmente, um valor de entrada considerável, entre 20% e 30% do valor total, sem a flexibilidade de um período de pagamento parcelado. Além disso, o financiamento bancário, em si, apresenta custos elevados. Consequentemente, imóveis prontos de médio padrão têm sofrido significativamente os efeitos dessa conjuntura.”
“Em contrapartida, o programa Minha Casa, Minha Vida ainda oferece uma oportunidade, devido às taxas de juros mais baixas e reguladas pelo governo. Acredito, portanto, que a expansão dos lançamentos do Minha Casa, Minha Vida seja fundamental, tanto pelo preço acessível quanto pelas taxas de juros reduzidas e pela crescente qualidade dos empreendimentos. Observamos, cada vez mais, projetos Minha Casa, Minha Vida que incorporam áreas de lazer e conveniência típicas de imóveis de médio padrão, resultando em produtos habitacionais de boa qualidade e adequados para moradia”, comenta.