Autismo é uma condição que, para quem não a conhece, torna-se desprezada. E, no mundo do futebol, onde algumas alienações são perceptíveis, esse é um problema a resolver.
Leio que o Estádio do Morumbi tem uma sala sensorial para receber os portadores de autismo. Excelente! Alguns clubes e/ou torcidas também fazem campanhas (Corinthians, Red Bull Bragantino, Vasco da Gama, Santos, Flamengo, entre outros, promoveram ou ainda promovem algumas ações)
Mas sabemos que há alguma hipocrisia. Colocar uma faixa (por exemplo) somente para fazer menção de que faz alguma coisa, a esmo, sem iniciativas concretas de inclusão, não adianta. Questione: como o autista é tratado? Como reduzir o barulho? E o acolhimento? Só a faixa, para “posar de preocupado” e nada de esforço (como as salas sensoriais, como citadas acima), torna-se vazio.
Há outros poréns: os fogos de artifícios! Não só o incômodo e prejuízo aos autistas, mas aos bichos de estimação. Os animais surtam e os tímpanos não aguentam.
Dias atrás, questionei em uma partida a saraivada de fogos na entrada do time da casa, e alguém alertou: “Não estão ocorrendo dentro do estádio, a bateria de rojões foi colocada na parte externa – e nem é iniciativa do clube, mas da torcida”.
O que muda tal fato? Nada! O barulho é o mesmo. E, pasmem, isso acontece em municípios que elaboraram leis de proibição de fogos com estouros.
Não adianta falar que é bobagem ou que isso é frescura. Eu sei que há defensores ferrenhos dessa farra, mas estamos no século XXI, a sociedade evoluiu e, ter compaixão do próximo, vale a pena (embora, a empatia é algo carente ainda…).
Em tempo: não estou me referindo às luzes, papel picado ou qualquer outra coisa que se possa fazer para festejar, mas ao barulho, simplesmente.
Os autistas (e os familiares deles, que acompanham o sofrimento e a angústia imediata) agradecem.
Em tempo, algo pouco discutido no futebol: e os atletas autistas? Será que não subestimamos o rendimento de alguns jogadores, pois muitos deles escondem tal condição? Mais do que isso: se revelando, o clube ajudaria ou o dispensaria?
Por fim: teríamos também árbitros autistas? Aí que não se revelarão mesmo…
Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)