PATROCÍNIO PAULISTA

Defesa ausente, atrasos e protestos marcam a cassação de Dandara

Por Leonardo de Oliveira | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Sampi/Franca
Reprodução/Câmara de Patrocínio Paulista
Vereadora Valéria Lopes durante a leitura do parecer final; Dandara Ferreira, parlamentar cassada
Vereadora Valéria Lopes durante a leitura do parecer final; Dandara Ferreira, parlamentar cassada

A sessão extraordinária que cassou a vereadora Dandara Ferreira (MDB), ex-presidente da Câmara Municipal de Patrocínio Paulista, foi marcada por atraso, manifestações e pouca presença do público. Prevista para as 9h desta segunda-feira, 1º, a reunião começou apenas por volta das 10h30.

O portal GCN/Sampi apurou que a vereadora apresentou atestado médico alegando quadro de diarreia, o que a impediu de comparecer. A ausência foi registrada como exercício de opção defensiva. No entanto, nenhum dos advogados de Dandara esteve presente. Por isso, não houve a nomeação de um defensor ad hoc — profissional designado pelo presidente da sessão para garantir a defesa de forma emergencial quando o acusado não comparece e não tem representação.

O plenário decidiu dar continuidade aos trabalhos, registrando em ata que o direito de defesa foi respeitado, mesmo sem ter sido exercido. A vereadora Valéria Lopes (MDB) ressaltou a gravidade do uso de manobras protelatórias (atraso intencional). “O poder legislativo não pode se tornar refém de expedientes manifestamente protelatórios, sob pena de comprometer sua função constitucional de zelar pela ética e pela probidade do exercício dos mandatos. A realização de uma sessão de julgamento de cassação mobiliza recursos públicos, estrutura administrativa e pessoal especializado. Condutas destinadas a obstar artificialmente a marcha processual representam grave afronta ao princípio da eficiência administrativa”, afirmou.

Manifestos e posicionamentos

Antes da votação, a vereadora Marli Amaral (Cidadania) afirmou considerar justa a destituição de Dandara do cargo de presidente da Câmara, devido a excessos durante sua gestão. Ela destacou como ainda mais grave a acusação de agressão física feita pelo Ministério Público, já que a lesão na vítima foi comprovada. "Sei que é uma questão conflitante e que há expectativa pelo resultado, mas não posso dar uma opinião que não esteja de acordo com a minha consciência. Preciso ser coerente com o que penso", disse.

O vereador Luís Carlos Boarati (PSD), conhecido como Luizinho da Lenha, também se manifestou. “Cada um é dono do seu voto, do seu sentimento e do seu coração. Só quero justificar que não há perseguição política. O processo passou pelas mãos de juízes e promotores, não é algo pessoal”.

A votação

Seis acusações foram analisadas. Para que a cassação fosse aprovada, pelo menos três precisavam receber dois terços dos votos — ou seja, seis votos favoráveis entre os nove vereadores. Confira o resultado:

1ª Acusação: agressão verbal contra a munícipe Janaína Aparecida de Souza

  • Sim: José Rubens (PL), Henrique Moura (MDB), Luizinho da Lenha (PSD), Everaldo Souza (Cidadania), Adriano Chimelo (PL) e Valéria Lopes (MDB)
  • Não: Marli Amaral (Cidadania)
  • Abstenções: Ricardo Magrim (Republicanos) e Luan Freiria (PSD)
  • Placar: 6 x 1 (2 abstenções) – Condenação

2ª Acusação: pedido irregular de cartão corporativo, que poderia impedir viagem oficial de vereadores a São Paulo

  • Sim: José Rubens (PL), Henrique Moura (MDB), Luizinho da Lenha (PSD), Everaldo Souza (Cidadania), Adriano Chimelo (PL) e Valéria Lopes (MDB)
  • Não: Marli Amaral (Cidadania) e Luan Freiria (PSD)
  • Abstenção: Ricardo Magrim (Republicanos)
  • Placar: 6 x 2 (1 abstenção) – Condenação

3ª Acusação: desrespeito a funcionários, com a afirmação de que "mandava na Câmara"

  • Sim: José Rubens (PL), Henrique Moura (MDB), Luizinho da Lenha (PSD) e Adriano Chimelo (PL)
  • Não: Marli Amaral (Cidadania), Luan Freiria (PSD), Valéria Lopes (MDB) e Everaldo Souza (Cidadania)
  • Abstenção: Ricardo Magrim (Republicanos)
  • Placar: 4 x 4 (1 abstenção) – Absolvição

4ª Acusação: descumprimento do regimento interno em sessão de homenagem a policiais

  • Sim: José Rubens (PL), Henrique Moura (MDB), Luizinho da Lenha (PSD) e Adriano Chimelo (PL)
  • Não: Marli Amaral (Cidadania), Luan Freiria (PSD), Valéria Lopes (MDB) e Everaldo Souza (Cidadania)
  • Abstenção: Ricardo Magrim (Republicanos)
  • Placar: 4 x 4 (1 abstenção) – Absolvição

5ª Acusação: ameaça verbal a denunciante após ser fotografada deitada no sofá da Câmara

  • Sim: José Rubens (PL), Henrique Moura (MDB), Luizinho da Lenha (PSD) e Adriano Chimelo (PL)
  • Não: Marli Amaral (Cidadania), Luan Freiria (PSD), Valéria Lopes (MDB) e Everaldo Souza (Cidadania)
  • Abstenção: Ricardo Magrim (Republicanos)
  • Placar: 4 x 4 (1 abstenção) – Absolvição

6ª Acusação: agressão física contra Leonara Cristina Saraiva, com lesão corporal, denunciada pelo Ministério Público

  • Sim: José Rubens (PL), Henrique Moura (MDB), Luizinho da Lenha (PSD), Adriano Chimelo (PL), Everaldo Souza (Cidadania) e Valéria Lopes (MDB)
  • Não: Ninguém
  • Abstenções: Ricardo Magrim (Republicanos), Marli Amaral (Cidadania), Luan Freiria (PSD)
  • Placar: 6 x 0 (3 abstenções) – Condenação

Resultado final

Com a aprovação das denúncias 1, 2 e 6, Dandara Ferreira foi oficialmente cassada. A decisão foi proclamada ao final da sessão e tem efeito imediato. A ex-vereadora ficará inelegível pelos próximos dois ciclos eleitorais.

Comentários

2 Comentários

  • Augusto 04/09/2025
    Dandara nós a População estamos com você !!
  • Anonimous 01/09/2025
    É uma pena, Dandara merecia algum tipo de punição, mas não a cassação , as características dela incomodam alguns vereadores, vários eleitos o foram arrastados por ela, inclusive o suplente que incrivelmente assumiu para votar em benefício próprio. O horário escolhido a dedo numa segunda-feira de manhã, impedindo a presença da maioria dos eleitores dela, ela errou? Sim, mas ao que parece a punição é só pra determinada classe social, qntos vereadores que votaram contra estariam na Câmara se não fossem os votos da dandara, quanto 2 pátria e família, nenhuma novidade, um \" prepara o documento \" o outro carimba. Enfim, nos grupos de WhatsApp da cidade, algumas figuras estão felizes, radiantes, afinal nunca teriam condições de se eleger nem pra líder de classe. Mas sendo negra, trans e pobre e moradora de um bairro que só é lembrado em época de eleição , enfrentando uma turma de olhos claros, de família, pessoas exemplares,;o resultado só poderia ser esse.