OPINIÃO

Parkinson: quando o movimento se torna remédio para o cérebro


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E se o movimento fosse mais poderoso do que um remédio para o cérebro? Essa é a pergunta que vem inspirando a ciência moderna ao investigar o impacto da atividade física no tratamento da Doença de Parkinson, que é uma condição neurodegenerativa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo e que se manifesta por tremores, rigidez muscular, lentidão nos movimentos e alterações posturais. Seus efeitos, no entanto, vão além da parte motora e comprometem também a autonomia, o humor, o sono e até a função intestinal.

Nas últimas décadas, a neurociência vem revelando que o exercício físico não é apenas um coadjuvante, mas um verdadeiro recurso terapêutico. Durante a prática, o corpo libera neurotransmissores como dopamina e serotonina, além de fatores neurotróficos como o BDNF, que fortalecem conexões neurais e favorecem a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro de se adaptar e reorganizar seus circuitos. Isso significa que cada treino pode ser uma forma de preservar autonomia, coordenação e cognição, oferecendo benefícios que vão muito além do alívio momentâneo dos sintomas.

Outro ponto de destaque é o chamado eixo intestino-cérebro. Muitos sintomas do Parkinson começam no trato digestivo e há cada vez mais evidências de que a microbiota intestinal influencia diretamente a evolução da doença. A atividade física atua também nesse eixo, ao melhorar o trânsito intestinal, reduzir inflamações e promover o equilíbrio da flora, beneficiando o cérebro como um todo.

Quando pensamos em prática física, é importante diferenciar exercícios isolados de movimentos funcionais. Trabalhar apenas um músculo ou articulação não basta. Pacientes com Parkinson se beneficiam de treinos globais que estimulam força, mobilidade, equilíbrio e cognição de forma integrada. Caminhadas rápidas, dança, yoga, tai chi e métodos posturais e fasciais são aliados potentes nesse processo.

Dentro dessa perspectiva do movimento, estudos recentes vêm apontando o tênis de mesa, ou “ping-pong”, como um recurso inovador no cuidado com pessoas com Parkinson. A modalidade não apenas exige reflexos rápidos e coordenação motora, mas também envolve tomada de decisão, atenção visual, planejamento estratégico e funções executivas.

Pesquisas publicadas em periódicos científicos como Frontiers in Neurology e Clinical Rehabilitation indicam que o tênis de mesa é seguro e viável para pessoas com Parkinson, contribuindo para o equilíbrio, o bem-estar mental e a atividade física regular. Além dos ganhos motores e cognitivos, o fator social desse jogo, praticado em grupo, reforça a motivação e a sensação de pertencimento, elementos fundamentais no enfrentamento da doença.

Outro campo que tem mostrado excelentes resultados é o chamado treino de dupla tarefa, que consiste em desafiar o cérebro a realizar simultaneamente tarefas motoras e cognitivas, como caminhar enquanto se resolve cálculos simples ou se repete uma sequência de palavras. Uma meta-análise publicada em 2023, reunindo 17 ensaios clínicos randomizados com mais de 800 pacientes, demonstrou que esse tipo de treino é eficaz e seguro para melhorar a velocidade da marcha, o equilíbrio dinâmico e o controle motor, com efeitos duradouros por até 12 meses. Mais recentemente, um estudo divulgado em 2024 mostrou que apenas o grupo submetido ao treino funcional com desafios cognitivos, e não o grupo de treino motor simples, apresentou melhorias significativas tanto nas funções cognitivas quanto nos parâmetros motores e na qualidade de vida. Esses achados reforçam que o cérebro com Parkinson precisa ser constantemente estimulado de maneira global, unindo corpo e mente.

Num bate papo com os neurologistas Dra. Laura Souza e Dr. Kleber Azevedo, a mensagem foi clara: a atividade física deve ser encarada como uma verdadeira medicação complementar, pois os pacientes que se mantêm ativos não só controlam melhor os sintomas motores, como também relatam mais energia, humor equilibrado e disposição para o dia a dia. Estes médicos comprometidos criaram o Park Day, que acontece hoje, no Parque da Cidade de Jundiaí, para trazer pessoas com Parkinson para o movimento, e eu estarei lá para caminhar também e passar alguns exercícios de aquecimento, Eldoas e respirações.

O diagnóstico de Parkinson não deve ser visto como uma sentença de limitação, mas como um convite a redescobrir a força do movimento. Cada passo, cada partida de ping-pong, cada treino que integra corpo e mente é uma mensagem de esperança que ecoa no cérebro. O movimento é, ao mesmo tempo, ciência, saúde e liberdade. O movimento é para todos! Muita saúde a todos

Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)

Comentários

1 Comentários

  • KLEBER CARLOS DE AZEVEDO JUNIOR 31/08/2025
    A Dra Liciana, é um ícone da reabilitação e qualidade de vida. Ela domina como ninguém não só teoricamente mas vivencialmente a arte terapêutica de reconexão coma saúde. Foi uma honra contar com o brilho de alguém tão competente e comprometida neste evento tão nobre!