OPINIÃO

Homem também cuida: saúde masculina em foco


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No Brasil, os homens vivem em média sete anos menos que as mulheres. Enquanto a expectativa de vida feminina gira em torno de 80 anos, os homens alcançam, em média, apenas 73 anos, segundo dados do IBGE de 2024. Essa diferença não é apenas um número, mas um reflexo de hábitos de vida, acesso irregular à saúde, e uma resistência cultural a procurar médicos e cuidar de si mesmo.

Especialistas afirmam que boa parte dessas perdas poderia ser evitada. “O homem se cuida menos, vai ao médico apenas quando a situação se torna grave e subestima sinais de alerta do corpo”, explica a médica geriatra Nuria Margalef, em entrevista ao IssoPodAjudar que irá ao ar em setembro, no Jornal de Jundiaí. “Doenças que poderiam ser prevenidas ou tratadas precocemente acabam causando complicações severas, que impactam tanto a vida dele quanto a de sua família”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça esse panorama: globalmente, homens têm maior incidência de doenças cardiovasculares, acidentes e mortes prematuras. Há também maior prevalência de fatores de risco, como tabagismo, consumo excessivo de álcool e sedentarismo, que contribuem para problemas crônicos como hipertensão, diabetes e câncer.

No contexto brasileiro o Ministério da Saúde alerta que homens entre 25 e 59 anos concentram a maioria das mortes evitáveis. Entre as causas mais comuns estão o infarto, acidente vascular cerebral (AVC), câncer de próstata, doenças respiratórias e acidentes de trânsito. Outro dado alarmante é que os homens têm 1,6 vez mais chances de morrer de causas externas – homicídios, acidentes de trabalho e trânsito – em comparação às mulheres da mesma faixa etária.

Mas nem tudo são números frios. Estudos mostram que quando homens adotam hábitos de prevenção, como alimentação saudável, prática regular de exercícios físicos, acompanhamento médico periódico e atenção à saúde mental, há redução significativa no risco de morte precoce e de incapacidades graves.

Entre os fatores que contribuem para o descuido com a saúde estão a cultura de resistência ao cuidado. Muitos homens associam consultas médicas e prevenção a fraqueza ou perda de masculinidade. “Existe ainda um estigma social que faz com que o homem se sinta invulnerável, ignorando sinais como dor no peito, alterações de pressão ou fadiga persistente”, diz o psicólogo clínico Paulo Henrique.

Além da saúde física, a saúde mental masculina também merece atenção. O Brasil registra altos índices de depressão e suicídio entre homens adultos, muitas vezes associados ao acúmulo de estresse, falta de diálogo e dificuldade de expressar sentimentos. Estudos indicam que homens com histórico de depressão têm risco aumentado de desenvolver doenças cardíacas e metabólicas.

Em Jundiaí, a realidade não é diferente. Homens de diferentes bairros compartilham a mesma tendência: procuram menos unidades de saúde, negligenciam exames de rotina e só buscam atendimento em situações críticas. Reconhecendo essa necessidade, algumas iniciativas locais vêm promovendo ações de conscientização, prevenção e integração da saúde masculina à vida cotidiana.

Entre essas iniciativas, a Clínica da Família da Ponte São João se destaca. A unidade realiza encontros mensais voltados para homens, promovendo debates sobre saúde, hábitos de vida, prevenção de doenças e enfrentamento de desafios do dia a dia. As reuniões envolvem agentes de saúde e equipes multidisciplinares, incluindo médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas, que discutem de forma prática e acolhedora as questões que afetam a população masculina.

Além de orientação e informação, os encontros estimulam a troca de experiências entre os participantes. Homens relatam desafios relacionados ao trabalho, estresse familiar, dificuldades de conciliar vida profissional e pessoal e a pressão social para manter uma imagem de força e invulnerabilidade. Essa abordagem integrada – saúde física, mental e social – tem se mostrado eficaz na adesão a hábitos preventivos e na detecção precoce de doenças.

A questão da saúde masculina também está ligada a doenças incapacitantes. Entre elas, o acidente vascular cerebral (AVC) merece destaque, sendo uma das principais causas de mortalidade e sequelas no país. O AVC é prevenível em grande parte dos casos, principalmente através do controle da pressão arterial, alimentação equilibrada, prática de exercícios e abstinência de tabaco e álcool em excesso. Entretanto, homens tendem a subestimar os sintomas iniciais, como fraqueza em um lado do corpo, alterações na fala ou visão turva, retardando o atendimento de urgência.

Outro problema relevante é a doença cardíaca, principal causa de morte masculina no Brasil. Hipertensão, colesterol elevado e sedentarismo são fatores de risco conhecidos, mas ainda pouco monitorados pelo público masculino. “A prevenção ainda é a melhor estratégia. Educação, acompanhamento médico e hábitos saudáveis salvam vidas”, afirma o médico cardiologista Marcos Ribeiro.

No campo da oncologia, o câncer de próstata é o mais comum entre homens acima de 50 anos, seguido por câncer de pulmão e colorretal. A detecção precoce, com exames periódicos, aumenta significativamente a chance de cura. Porém, a resistência cultural e o medo do exame ainda afastam muitos homens da prevenção.

O panorama atual mostra que informação, hábitos de vida e acompanhamento médico regular são determinantes para reduzir a diferença de expectativa de vida entre homens e mulheres. O desafio está em quebrar barreiras culturais, promover a conscientização e criar espaços de acolhimento que incentivem a participação masculina nos cuidados com a própria saúde.

Em Jundiaí, a iniciativa da Clínica da Família da Ponte São João é um exemplo de como políticas públicas e ações comunitárias podem gerar mudanças reais. Ao unir informação, prevenção, integração com agentes de saúde e acompanhamento multidisciplinar, esses encontros mostram que é possível transformar hábitos e reduzir riscos de doenças incapacitantes.

O básico bem feito, como a médica geriatra Núria Margalef citou na entrevista, aumenta e muito a expectativa de vida e com mais qualidade. “Apenas 30% é correspondido por genética, os outros 70% são por hábitos e escolha de vida.


Edvaldo de Toledo é empresário, enfermeiro, especialista em Gerontologia e Geriatria, Apresentador do IssoPodAjudar, Criador da Cuidare Home Care (@edvaldo.toledo)

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