OPINIÃO

A oposição besta


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Eu cresci ouvindo falar do clima exaltado das campanhas de Adhemar de Barros (PSP) e de Jânio Quadros  (PDC). Adhemar este que, mesmo tendo apoiado a Ditadura Militar, foi cassado por ela. Da ala esquerdista da minha família, a torcida por Luiz Carlos Prestes e por sua mulher, Olga Benário, entregue grávida aos nazistas e morta em um campo de concentração. 

Não creio que este clima separatista - ou eu ou eles - fez bem ao Brasil. Aliás, o racha só faz bem aos próprios políticos, já que a população fica atenta às brigas internas, externas e pouco olha para a execução do Orçamento e das políticas públicas implantadas. Racham-se os apoios, diminui  a transparência, aumentam as filas da saúde e da prática pouco inclusiva da educação e parece que está tudo bem. 

Não sei quando a política passou a ser um projeto pessoal e não coletivo. Fico abismada, aqui nesta Jundiaí mesmo, como as nossas instituições mais caras são atacadas somente para falar mal da administração. Parece que, de um ano para o outro, perdemos o amor pelas nossas instituições e vale tudo para atacar as pessoas em redes sociais fakes e de pouca credibilidade. 

Alto lá! Faça-se oposição, mas uma oposição de fato. Até agora não ouvi ninguém falar sobre o orçamento real praticado, quais as políticas para longo prazo e nem mesmo checar o investimento futuro e a aplicação dos recursos próprios, financiados e de emendas.

Não vaticino ninguém, mas acho que político que está preocupado somente com o enriquecimento próprio tem dias contados. Ou com seus próprios interesses empresariais ou familiares. Com a IA, checagens digitais e cruzamento de dados, o MP e a Gaeco têm instrumentos fantásticos para descobrir desvios em tempo real. Se haverá Justiça depois, só Deus saberá. 

A verdade é que política é a arte de construir pontes. Vejo lá o presidente Lula conversando com o Centrão, fazendo mea culpa e pedindo que aliados reais fiquem ao seu lado. Porque, vamos combinar, este país aqui há décadas é governado pelo Centrão - independentemente que a sigla dos presidentes seja à direita ou à esquerda. 

Perdemos tempo com bobagens. A gente devia mesmo é estar investindo em medição da qualidade do serviço público, do tempo de atendimento na saúde, na educação de ponta, na qualidade do asfalto. Quando a cidade para para discutir sassaricos ou fofoquices estamos indo mal. 

E sabe a consequência? Muitos empresários não querem nem tirar foto com políticos, quiçá investir no  município. Temem pela sua imagem. Vaticino de novo que daqui a pouco a população virará as costas para muitos destes eleitos. 

Política é uma construção, não é um jogo de futebol, onde o dono da bola manda no time todo. Arrogância e falta de diálogo são mortais para todos os partidos. 

E, para não dizer que não falei em JK também, toda vez que vou a Brasília, choro ao ver as imagens - em seu memorial - de um tempo em que a gente tinha um projeto de país.

Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, administração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ. 

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