OCUPAÇÃO

Mão de obra 60+ salta 26% em dois anos em Jundiaí

Por Redação |
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Will Suddreth / Unsplash
A atividade laboral na terceira idade geralmente é desenvolvida por necessidade financeira, pois muitos aposentados têm queda na renda
A atividade laboral na terceira idade geralmente é desenvolvida por necessidade financeira, pois muitos aposentados têm queda na renda

O número de pessoas com 60 anos ou mais empregadas vem aumentando ano a ano. Em Jundiaí, havia 6.666 pessoas com 60 anos ou mais em emprego formal em 2022. O número saltou para 7.412 em 2023 e depois para 8.411 em 2024, segundo dados da divulgação parcial da Relação Anual de Informações Sociais (Rais). De 2022 para 2024, o aumento foi de 26%.

Entre o final de 2012 e 2024, a população brasileira com 60 anos ou mais cresceu 55%, ultrapassando a marca de 35 milhões de pessoas, segundo levantamento da pesquisadora Janaína Feijó, do FGV IBRE. Em Jundiaí, de acordo com o Observatório Jundiaí, esse público já soma 80.410 pessoas. Isso mostra que quase 10% da população idosa de Jundiaí está no mercado de trabalho.

Para o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Gustavo Monteiro, o envelhecimento da população e da força de trabalho terá efeitos relevantes no futuro, mas essa transição já deve ser considerada agora. “Um dado muito interessante que o Dieese levantou recentemente é que o trabalho informal das mulheres com 60 anos ou mais subiu 72% desde 2021. Isso evidencia que essa população tem muita vontade de trabalhar, mas tem dificuldade para acessar empregos formais.”

Gustavo afirma que, entre os idosos, há também os que trabalhem pela ocupação, mas o trabalho por necessidade predomina. “Estamos vivendo mais tempo e alguns gastos aumentam na velhice, como os gastos com saúde, remédios etc. Ao mesmo tempo, a aposentadoria muitas vezes significa uma queda repentina da renda. Então, continuar trabalhando acaba sendo a única maneira de manter o nível de vida.”

“Mesmo quando a pessoa tem uma boa situação financeira, trabalhar pode melhorar a qualidade de vida e se manter ativo é algo que ajuda na saúde da pessoa. Então, nesse sentido, pode ser considerado uma necessidade. Mas, para boa parte da população, para quem está numa situação mais vulnerável, o trabalho tem papel fundamental para a subsistência da pessoa e de sua família. Principalmente entre aquelas pessoas que já são mais velhas, mas que ainda não atingiram a idade para se aposentar ou acessar o BPC - LOAS, que é de 65 anos”, diz o economista sobre o Benefício Prestação Continuada.

Mesmo quando o idoso não está em vulnerabilidade, pode continuar trablhando por sentir bem-estar

Jovens perdem espaço?

É de se pensar que, com os idosos ocupando o mercado de trabalho, as pessoas mais jovens estejam perdendo espaço, mas não é exatamente assim que funciona, como explica Gustavo Monteiro. “As empresas resistem na contratação de idosos porque eles têm mais dificuldades em lidar com novas tecnologias, em comparação com os mais jovens. Por outro lado, muitos idosos procuram trabalhar por conta própria ou viram empreendedores.Na atual conjuntura do mercado de trabalho brasileiro - em que a atividade econômica cresce e o desemprego se mantém baixo - há espaço para jovens e idosos, embora cada grupo tenha suas dificuldades e vantagens.”

Sobre essas dificuldades e vantagens, idosos, via de regra, têm mais experiência, mas isso não quer dizer que podem assumir cargos menos braçais, em detrimento dos jovens. “A entrada de jovens mais qualificados no mercado de trabalho empurra os mais velhos para trabalhos menos qualificados. É claro que podemos passar por mudanças culturais e demográficas que alterem essa tendência.”

“Explicando melhor: antigamente, os trabalhos menos qualificados eram a porta de entrada dos jovens no mercado de trabalho, que daí avançavam para ocupações mais qualificadas ao longo da carreira. Mas, nos últimos anos, os jovens tiveram a oportunidade de estudar mais e se preparar melhor para entrar no mercado de trabalho. Isso permitiu que esses jovens ingressassem já em ocupações um pouco mais qualificadas, dificultando a progressão na carreira de alguns trabalhadores mais velhos com baixa escolaridade”, diz o especialista.

Como exemplo, o economista do Dieese cita um emprego braçal em que jovens atuam menos hoje. “Há um envelhecimento das empregadas domésticas, que antigamente era um trabalho de entrada no mercado de trabalho para jovens mais pobres. Hoje, segundo levantamento do Dieese, mais da metade (52%) das domésticas tem mais de 45 anos e só 15% tem menos de 30 anos. Isso é significativo, porque uma em cada oito mulheres ocupadas são empregadas domésticas, no Brasil. Então, é um contingente relevante.”

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