A erotização infantil no Brasil existe desde sempre. Mães e pais pouco atentos estavam e estão à mercê da televisão de massa, agora das redes sociais e de acesso facilitado a conteúdos impróprios para a idade do seu filho. Lembro-me vagamente do Programa da Xuxa - eu já adolescente - questionando como aquelas roupas e comportamentos eram inadequados às crianças.
Mais tarde, ao me tornar mãe, briguei com uma proprietária de uma loja infantil em um shopping bacana aqui da cidade. Tinha ido procurar roupa para minha filhinha de dois anos e ela só me mostrava minissaias e tops. Perguntei se ela só tinha roupas para prostitutas mirins. Ficou chocado? Repare bem se as crianças estão vestidas como crianças ou são réplicas de erotização adulta.
Ainda sem esse assunto estar na mídia, protegi meus filhos com acesso limitado à televisão, eles podiam ver somente alguns tipos de desenhos, naquela época, normalmente na TV Cultura, não ouviam rádio aberto nem tampouco dei celular a eles antes dos 14 anos. Era outra época, eu sei, mas me lembro de ter decidido radicalizar esse assunto de educação quando vi, assombrada, minha sobrinha de 3 anos dançando “Na boquinha da garrafa” e pensei: filho meu não vai escutar e dançar um trem desse não.
Agora é tudo mais difícil. Sou madrinha de dois, um de 11 e outra de 6 anos. Minhas comadres, atentas, não dão acesso a celular nem a conteúdo livre em redes sociais, YouTube ou semelhantes. O mais velho, Davi, de 11 anos, só pode ficar uma hora aos domingos com celular, e vigiado. Nina, de 6, tem controle rigoroso sobre o que assiste, a mãe usa todos os filtros possíveis e está perto para vigiar esta exposição.
Pode parecer radicalização, mas não o é. Expor filhos pequenos às redes sociais é trazer o crime para dentro de casa. Chats, directs e etc podem ser um canal livre para os pedófilos, assassinos e afins. Sem contar que a IA pode distorcer a imagem do seu filho e colocá-lo em situações críticas ou pornográficas.
Não podemos nos esquecer que os estupradores de vulneráveis estão, em 70%, dentro da família e de nossas casas. Quem tem filhos pequenos precisa estar vigilante o tempo todo. Sem essa de a criança ir brincar na casa do amiguinho, no mesmo prédio, sem você estar por perto. Pedófilos estão por toda a parte. Dormir na casa dos outros é mesmo necessário?
Não podemos ser ingênuos. A tarefa de proteger nossos filhos é nossa. Não é da escola, da avó, ou das redes sociais, é nossa! Imaginem você que seu filho não sabe se proteger de nada. Para eles, em sua ingenuidade, é mais um amiguinho querendo conversar e eles não percebem que pode ser um adulto por trás daquela tela. Até os 16 anos as crianças não devem ficar expostas. Nem a telas, nem a conteúdos impróprios, nem a vulgarização de seus corpos.
É difícil? Muitíssimo, mas estamos formando novos cidadãos e todo psicólogo sabe que os traumas da primeira infância são para a vida inteira. A responsabilidade é de mães e pais.
Então, você é a favor de regular as redes? Óbvio que sim. Não temos condições de expor crianças, idosos a uma terra sem lei, onde o ódio, o crime, assassinatos são disseminados o tempo todo.
E tem mais. A vida acontece no aqui e agora. No presente e no real. Ao difundir uma realidade virtual, começam as comparações, as doideiras e a doença mental. Minha sugestão sempre será ir caminhar no parque, tomar sol, conversar com pessoas de verdade e deixar de lado o celular. Fiquei horrorizada outro dia quando vi, no Sesc, oficina para pular cordas. Gente! As crianças não sabem mais pular cordas ou subir em árvores!
É nossa obrigação proteger a infância. Deixem as crianças brincar! Ouçam músicas feitas para a idade delas, livros redigidos para esta faixa etária e controlem sua TV e tablet. Dá trabalho? Opa se dá, mas educar é a tarefa mais importante e nobre de nossas vidas.
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, administração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ.
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VIVALDO JOSE BRETERNITZ 24/08/2025Excelente texto.