OPINIÃO

Fim do serviço 710 e o recado de Tarcísio


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Agora é oficial. A CPTM vai mesmo acabar com o Serviço 710. A partir do dia 28 de agosto, as linhas 7-Rubi e 10-Turquesa serão desconectadas e os passageiros que viajam no trecho entre Jundiaí e Rio Grande da Serra terão que fazer uma parada obrigatória na Estação Barra Funda para embarcarem em outro trem.  

Para quem vive na pele o drama do transporte coletivo, o impacto é imediato: mais filas, mais tempo de espera, mais trens lotados. O que era um trajeto direto agora se converte em baldeação obrigatória. O tempo de viagem vai aumentar, com mais horas roubadas de descanso, lazer ou convívio familiar. 

O que o governo Tarcísio de Freitas chama de “ajuste operacional” é, na prática, um retrocesso. O fim do serviço 710 da CPTM é mais do que uma mudança técnica na malha ferroviária de São Paulo: é um golpe duro contra milhares de trabalhadores que dependem diariamente da integração entre as linhas 7-Rubi e 10-Turquesa. 

Criado para reduzir baldeações e encurtar o tempo de deslocamento, o serviço 710 representava não apenas eficiência, mas um símbolo de que o transporte público pode, sim, ser pensado para o usuário. Sua extinção revela muito sobre as prioridades do governador Tarcísio de Freitas.

A justificativa oficial é a preparação para a concessão das linhas à iniciativa privada. Tarcísio insiste na narrativa de que privatizar é sinônimo de modernizar. Mas a experiência já mostrou o contrário: tarifas mais caras, cortes de serviços e a lógica do lucro acima da necessidade da população. 

O fim do 710 se encaixa nessa estratégia — desmontar, sucatear e criar insatisfação para vender a promessa de que o setor privado será a salvação. Ao contrário do que eles pensam, o transporte público não é mercadoria: é um direito social, uma engrenagem essencial da vida urbana.
 
Quando um serviço como o 710 é extinto, não é apenas um trem que deixa de circular; é a vida de milhares de pessoas que passa a ser tratada como detalhe secundário em um projeto de poder. 

O fim do Serviço 710 não é um caso isolado. A lista de desserviços do governador Tarcísio de Freitas cresce a cada dia. Não faz muito tempo, ele comemorou a eleição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e aplaudiu o aumento das tarifas para exportações brasileiras, que ameaça a nossa indústria e coloca em risco milhares de empregos. 

Há um ano, quando vendeu a Sabesp a preço de banana, Tarcísio prometeu eficiência, mas entregou o caos: esgoto jogado sem tratamento no Tietê, bairros inteiros sem água por dias, 10% dos trabalhadores demitidos, contas que saltaram de R$ 70 para quase R$ 500. O que era bem público virou máquina de lucro. 

Isso sem falar nos novos pedágios free flow, que vêm sendo implantados em diversas rodovias do Estado. Tarcísio de Freitas pode tentar se esquivar da responsabilidade, mas a verdade é simples: ele desmonta o patrimônio público hoje e prepara o terreno para amanhã entregá-lo a preço de banana para a iniciativa privada, deixando a conta para o povo pagar.

O fim do 710 é mais do que uma decisão técnica — é um recado político. E a pergunta que fica é: até quando o paulista vai aceitar pagar essa conta pela ambição privatista do governador Tarcísio de Freitas?

Mário Maurici de Lima Morais é jornalista. Foi vereador e prefeito de Franco da Rocha, vice-presidente da EBC e presidente da Ceagesp. Atualmente, é deputado estadual e primeiro secretário da Assembleia Legislativa de São Paulo.

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