Depois de um expressivo avanço em 2024, com crescimento da produção de 3,7%, a indústria de transformação deve desacelerar significativamente em 2025 e 2026. Os juros elevados, que mantêm as condições financeiras restritivas, a elevada incerteza global e a expectativa de desaceleração gradual da atividade devem impactar fortemente o setor.
Análise de dados e cenários prospectivos produzida pela Fiesp indica uma reversão da produção da indústria de transformação este ano. De um aumento de 0,7%, o Departamento de Economia da entidade agora projeta estabilidade, ou seja, crescimento zero. Para 2026, a expectativa é de queda de 0,9%.
As tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos, relevante comprador de produtos manufaturados brasileiros, também contribuem para o arrefecimento do setor.
Antes do anúncio das exceções, a Fiesp estimava um impacto de 0,42 p.p. no PIB da indústria de transformação deste ano e de 0,78 p.p. no de 2026. Após a divulgação da lista de exceções, os números passaram para 0,24 p.p. neste ano e 0,44 p.p. em 2026.
Em contrapartida, a indústria extrativa deve apresentar ótimo desempenho. O crescimento da produção no setor foi revisado de 5% para 7,2% em 2025, após estabilidade (zero) em 2024. Petróleo e gás irão puxar o segmento. Para o próximo ano, o resultado deverá ser ainda mais forte, com expansão de 11,9%. Além de petróleo e gás, a Fiesp também prevê avanço na extração de minério de ferro.
É o setor extrativo, aliás, que garantirá o avanço da produção da indústria geral em 2025. Mesmo revisada para baixo, a produção industrial deverá fechará o ano no azul, com desempenho positivo de 0,9% (antes a estimativa era de 1,3%).
Assim como o agronegócio, a indústria extrativa é menos impactada pelos elevadíssimos juros. No contexto atual de aperto monetário, são esses setores que deverão alavancar o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, com avanço estimado pela Fiesp em 2,4%.
A redução em relação a 2024, quando o crescimento registrado foi de 3,4%, se deve aos juros em patamares muito elevados, à desaceleração da massa salarial ampliada e à imposição pelos EUA das tarifas de importação, com consequente redução da demanda global.
Na indústria, neste momento, vale destacar o bom desempenho do setor de máquinas e equipamentos, que segue com alta generalizada em todos os segmentos. Os resultados positivos são explicados, em grande parte, pela demanda por máquinas agrícolas (em função da safra recorde) e pela performance da indústria extrativa devido à demanda por máquinas para uso na extração mineral. Os vetores negativos são a ociosidade da indústria de transformação e a desaceleração da construção civil.
Em que pese o crédito caro, a produção de veículos leves segue aquecida, impulsionada pela manutenção do ritmo elevado de compras das locadoras; da colheita da safra de grãos recorde; da recuperação das exportações; e da expectativa de aumento da demanda devido aos programas governamentais “IPI Verde” e “Carro Sustentável”.
O cenário, porém, está longe de ser tranquilo. Com a Selic mantida em 15% e expectativa de corte no horizonte até o fim do ano, o setor industrial seguirá navegando em águas turbulentas, sustentado pela força da extração mineral e pressionada pela fragilidade da indústria de transformação.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)