Eu não sei vocês, mas eu ando cansada de ouvir falar sobre tarifaço, tarifinho, Trump e consequências internacionais para o comércio. Assim como repudio o fla-flu da política nacional. Nesta história de torcer para o preto ou para o branco, o cinza cresce com o desemprego, a má qualidade da educação, a fila da saúde sem ter fim e os desgovernos.
Estamos assim porque empoderamos pessoas, escolhemos (?) partidos e não cuidamos da gestão pública. Se a gente enveredar para a psicologia individual ou social, sabemos que nem sempre nossos pensamentos, atitudes e posicionamentos têm lado fixo ou que não vamos mudar de opinião se ouvirmos e lermos tratados que nos mostrem o outro lado.
Pois é. As coisas não têm lado A ou B. Há inúmeros dados. Inúmeras consequências. Repudio a homofobia ou a transfobia ao ouvir que uma mãe, evangélica, botou pra fora um filho de 14 anos, ao saber que era homossexual. Ela não aceitou o filho, que foi se prostituir na rua. Anos depois, ele(a) já político com mandato, fez as pazes com a mãe. Mas o que ele passou na rua me fez chorar. Há bom senso em uma mãe colocar na rua um filho de 14 anos?
Mediação e diálogo é o que nos falta. Me preocupa o fato de as pessoas, principalmente os brasileiros, viverem numa bolha e se informarem somente através desta. Fiz um teste. O que aparece para mim nas minhas redes sociais não aparece para meus filhos e haja disseminação de ódio ali. Ou seja, eu só estou tendo acesso a informações que condizem com meu perfil. Eu não estou ouvindo o contraponto.
E ouvir o contraponto é importante. Nesse Brasil, em que convivemos com dados socioeconômicos iguais ao da Índia e da Suécia, ao mesmo tempo, qual o denominador comum entre a sociedade? Todos querem ser felizes, ter saúde, educação e segurança, mas quais pontes estamos construindo? Ao recrudescer no nosso discursinho de direita ou esquerda, não estamos buscando o equilíbrio. E equilíbrio é tudo na vida.
O que é importante pra mim, pode não ser importante pra você. Eu sempre dizia aos meninos que, em nossa casa, educação e saúde vinham em primeiro lugar. Depois, o consumismo - a que eles não têm afeição alguma, diga-se de passagem. Mas há famílias em que viajar para Miami anualmente é mais importante do que se falar o bom português. Outras famílias, aqui nessa Jundiaí mesmo, que comer diariamente uma refeição é a preocupação mais importante da vida.
Por isso, é preciso ouvir. E estabelecer o mediano, o fazer possível para mim, pra você e para os outros. E eu não vejo outro caminho a não ser investir em gestão pública de qualidade, sem a necessidade de me preocupar com que partido estará no poder.
Eu e você precisamos saber mesmo a qualidade da educação que estamos proporcionando. Qual nosso ranking no país? O que temos feito para melhorá-la? Na Saúde, a mesma coisa. Como andam as filas? Qual a solução a médio prazo? E assim vai por todos os setores da nossa gestão.
A IA tem de nos ajudar com isso. As soluções estão por aí, na nuvem das startups. Uma cidade só será uma boa cidade quando puder gastar bem, eficientemente, dando qualidade aos serviços prestados. E, desculpem, não vamos atingir esse patamar se ficarmos à espera dos políticos e seus partidos voláteis.
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, administração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ.
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VIVALDO JOSE BRETERNITZ 17/08/2025Excelente texto