OPINIÃO

História do aprendizado profundo 


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Desde a sua criação, a IA passou por vários ciclos de expansão e de retrocesso. Foram períodos de grandes promessas e outros de "inverno de IA", período ruim em que até o financiamento sofria grandes cortes, reduzindo então até o interesse pela pesquisa e progresso.

Em meados de 1950, os pioneiros da IA estabeleceram uma missão: recriar a inteligência humana em uma máquina.

Essa combinação, com clareza do objetivo e da complexidade, atraiu algumas das maiores mentes do emergente campo da ciência da computação: Marvin Minsk, John Mc Cart e Herbert Simon.

Nascido nos anos 60 em Taiwan, Kai Fu Lee que estudou ciência da computação na Universidade da Columbia, no início dos anos 80, diz que a IA é a elucidação do processo de aprendizagem humana, a qualificação do processo do pensamento humano. “É o último passo dos homens para se entenderem."

O campo da IA, durante os anos 50 e 60, estava dividido em dois: a abordagem "baseada em regras" e a abordagem das "redes neurais", sendo aquela, a influência do humano sobre a máquina, e esta dispensava a influência humana, isto é, quanto menos influência humana, melhor. Em 1970, as “redes neurais” saíram de moda e a IA entrou no modo "inverno".

O que finalmente ressuscitou o campo das "redes neurais" que dispensam a influência humana, e desencadeou o renascimento da IA, a qual estamos vivendo hoje, foram mudanças em duas das principais matérias-primas das quais as “redes neurais" se alimentam, juntamente com um grande avanço técnico. As "redes neurais" precisam de grandes quantidades de duas coisas: poder de computação e dados. Os dados "treinam" o programa para reconhecer padrões, fornecendo muitos exemplos, e o poder computacional permite que o programa analise esses exemplos em alta velocidade.

Isso não existia em 1950. Hoje, o seu smartphone tem milhões de vezes mais poder de processamento do que os principais computadores de ponta que a NASA usou para enviar Neil Armstrong à lua, em 1969.

O grande avanço técnico das "redes neurais" chegou por volta de 2010, porém o ponto de virada só veio em 2012, quando uma "rede neural", construída pela equipe de Hinton, acabou com a competição em um concurso internacional de visão computacional. Até 2013, fazia sentido comparar o progresso das empresas chinesas de internet com as americanas. Hoje, essa questão deixou as universidades, deixou o Vale do Silício e virou questão de Estado.

China e EUA travam uma guerra pelo poder do uso da IA no mundo, até porque, em relação a esse assunto, China e EUA já possuem uma enorme vantagem sobre todos os outros países.

Segundo estudiosos, neste momento, a China está em vantagem sobre os EUA, embora ambos estão incubando as gigantes da IA que dominarão os mercados globais e conseguirão extrair riqueza dos consumidores do mundo todo.

Nessa guerra entre China e EUA, observa-se que cada um, ao seu modo, vem investindo fortunas para saber quem cruzará primeiro a linha de chegada.

Falar em linha de chegada, nesse universo, não é muito correto, porque o “obsoletismo”, em relação a IA, é a coisa mais frequente e a tal marca da linha de chegada estará sendo colocada sempre à frente a milhares de km. É possível que nenhum deles chegue a essa linha que já é virtual.

A China, até pelo seu modelo político, trata tudo como questão de Estado, e, nesse sentido, pode, segundo analistas estar começando a andar na frente dos EUA, que, apesar de Trump, terá que, de alguma forma, atuar sob o modelo político, até hoje conhecido nos EUA, o que, por vezes, breca o financiamento dos EUA para o avanço da IA, apesar do Vale do Silício.

O plano da China foi criado nos níveis mais altos do governo central (Estado Chinês), mas há dentro da China uma guerra entre as cidades (prefeituras) onde as ações reais acontecem.

Após a divulgação do Conselho de Estado, as autoridades chinesas locais, em busca de promoções, se lançaram no objetivo de transformar suas cidades em centros de desenvolvimento de IA.

Oferecem subsídios para pesquisa, direcionam fundos de orientação de capital de risco para IA, compram os produtos e serviços de startups locais de IA, facilitam o registro de empresas, ônibus gratuitos, vagas cobiçadas em escolas locais para os filhos de engenheiros, para executivos das empresas, além de moradias especiais para os funcionários das startups de IA.

Claro que é muito cedo para saber os resultados exatos da campanha de IA na China. A aposta da China é de empoderamento das cidades, e se não der certo, os prefeitos não serão eternamente ridicularizados por seus oponentes, pois agem sob o apoio do governo central.

Os governos americanos também jogam bilhões de dólares a título de empréstimos ou financiamentos às empresas americanas, às startups. Muitas vezes, o fracasso ocorre. Nos EUA (ainda) esse fracasso pode impedir que o incumbente renove o seu mandato. Na China, renovar o mandato parece ser mais fácil, pois o fracasso será sempre do Estado Chinês, enquanto que nos EUA, o fracasso é sempre do incumbente local.

Você pode me perguntar, “e o Brasil”? O Brasil está, tecnologicamente, fora desse mundo.

Viramos, optamos por sermos consumidores, e pode nem ter sido uma escolha consciente, mas pesou muito nisso a nossa posição lá atrás, quando nos fechamos para as inovações vindas de fora. Fomos xenófobos, por isso vivemos na periferia do mundo tecnológico.

Oswaldo Fernandes foi secretário da Educação em Jundiaí

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