OPINIÃO

Conto de fada


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Não sei como andam os contos de fada. Povoaram minha infância e o início da adolescência. Conforme se encontra em “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carrol: “O segredo, querida Alice, é rodear-se de pessoas que te façam sorrir o coração. É então, e só então, que você estará no País das Maravilhas”. As personagens me afagavam.

Em um mundo em que são raros os que enxergam o próximo, como diz o escritor moçambicano Mia Couto: “Queixamo-nos de que as pessoas não leem livros. Mas o déficit de leitura é muito mais geral. Não sabemos ler o mundo, não lemos os outros”, sentimo-nos acariciadas pelo Céu por um acontecimento nesta semana.

No dia 11 de agosto, a Associação Socioeducacional Casa da Fonte se tornou um belo conto de fadas. A autora, minha querida Elisângela dos Santos, que é plena de ginástica artística e rítmica. Professora dos Complexos Educacionais, Culturais e Esportivos “Romão de Souza” e “Aramis Polli”. Retorno a “Alice no País das Maravilhas”: “o segredo é rodear-se pessoas que te façam sorrir o coração”. A Elisângela sempre se empenhou em alegrar a alma das pessoas. Dessa vez, ao observar os alunos nossos da referida ginástica em festival no anexo do Ginásio de Esportes “Dr. Nicolino de Luca” em junho – aqui temos também a professora encantada, Tânia Cristina Coelho Vaccari, em parceria com a Prefeitura Municipal, – reparou que nosso povo miúdo e um pouco maior, vestia-se com simplicidade, diferente das suas de collant com brilho. Veio-lhe, talvez, o poema “A Bailarina” de Cecília Meireles: “  
Esta menina/ tão pequenina/ quer ser bailarina. /Não conhece nem dó nem ré/ mas sabe ficar na ponta do pé./ Não conhece nem mi nem fá/ Mas inclina o corpo para cá e para lá/ Não conhece nem lá nem si,/ mas fecha os olhos e sorri./ Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar/ e não fica tonta nem sai do lugar./ Põe no cabelo uma estrela e um véu/ e diz que caiu do/ céu./ Esta menina/ tão pequenina/ quer ser bailarina./ Mas depois esquece todas as danças,/ e também quer dormir como as outras crianças”. Assim como ela foi no IOA: bailarina sob os aplausos de seus inesquecíveis pais.

Foi sonhando, foi sonhando, de sapatilha com brilho e saia rósea de tule, coque enfeitado, em giro no espelho da caixinha de música de outrora, e tocou o coração dos pais e de suas crianças e adolescentes. Em ação solidária trouxeram, para a Casa da Fonte, 66 collants e 81 porta-coque e ponteiras. Nossas alunas suspiraram ao ver o que chegava para elas. Ao abrir uma mala, uma sussurrou: “Abriu a mala das princesas. E é real”. Sim, as princesas iluminadas dos contos de fada. Uma de nossas mães falou que jamais imaginara a filha vestida com uma roupa daquelas.

Puderam escolher as roupas. Um grupo dançou em homenagem ao outro. Abraçaram-se, agradeceram, brincaram.

A Nethy representou, com a força de seu entusiasmo, cadência perfeita e sorriso aberto, as alunas adultas da ginástica rítmica.

De algum lugar, a música “End of Time” de Beyoncé: “Venha, segure a minha mão, eu não deixarei você ir. (...) Eu serei sua própria pequena estrela/ Me deixe brilhar no seu mundo/ Em seu próprio universo...”

Gente que veio de ruas distantes para fazer brilhar quem habita um mundo diferente do seu. Gratidão imensa!

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

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