OPINIÃO

O tarifaço de Trump e Jundiaí 


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Nas últimas décadas Jundiaí consolidou-se como um dos polos mais dinâmicos da economia brasileira. Hoje, ocupamos a 18ª posição no ranking nacional de Produto Interno Bruto (PIB) entre os municípios do país, incluindo as capitais estaduais — um feito notável.

Um dos marcos mais promissores dessa ascensão é o projeto da nova ferrovia entre São Paulo e Campinas, com uma parada única em Jundiaí, que irá colocar nossa cidade no centro da nova região metropolitana que se desenha no Sudeste brasileiro.

Essa obra de infraestrutura tende a reforçar a centralidade do município no eixo do desenvolvimento nacional, deixando claro que Jundiaí já não é mais a cidade dormitório de décadas atrás, marcada por dificuldades de abastecimento de água e pela evasão de grandes empresas.

Por meio de administrações públicas eficazes e iniciativas bem-sucedidas de atração de investimentos, a cidade reverteu esse cenário e tornou-se referência em gestão urbana e industrialização.

Um dos motores desse progresso foi a internacionalização de sua economia. Desde 2017, com o programa “Exporta + Jundiaí”, o município tem mantido médias de exportação superiores a R$ 1 bilhão por ano — chegando a R$ 1,2 bilhão em 2021 e quase R$ 1,5 bilhão em 2022, segundo dados da Prefeitura.

Em 2024 as exportações da região deram um salto e somaram cerca de US$ 1 bilhão, com aproximadamente 25% desse valor destinado aos Estados Unidos. Já no primeiro semestre de 2025, a região exportou US$ 1,29 bilhão, registrando um crescimento de 8,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, conforme relatório do Ciesp/Fiesp.

Nesse contexto de forte integração com o mercado global, o chamado “tarifaço” do governo Donald Trump representa uma ameaça concreta à economia regional. A adoção de tarifas mais altas sobre produtos importados — parte da política protecionista norte-americana — pode impactar negativamente diversos setores estratégicos de Jundiaí e região.

Entre os efeitos mais imediatos, destacam-se:

Exportações prejudicadas: Com um quarto das exportações regionais direcionadas aos EUA, as empresas locais devem enfrentar perda de competitividade, especialmente nos segmentos industrial e agrícola.

Cadeias de suprimento afetadas: muitas indústrias jundiaienses utilizam insumos importados. O aumento de tarifas pode encarecer a produção, diminuir margens de lucro e comprometer a capacidade de inovação.

Desestímulo ao investimento estrangeiro: a instabilidade no comércio internacional desmotiva empresas multinacionais a expandirem suas operações no Brasil, afetando diretamente a atração de investimentos para o município.

Mercado de trabalho sob pressão: com exportações em risco e aumento de custos de produção, setores vulneráveis poderão demitir ou reduzir jornadas de trabalho.

As áreas mais sensíveis são a indústria de autopeças e de bens de capital — ambas com presença forte em Jundiaí —, que exportam máquinas, equipamentos e componentes industriais. Além disso, a fruticultura e outras atividades agrícolas também serão impactadas pelo aumento das tarifas sobre frutas e alimentos.

Diante desse cenário, é essencial que o poder público local, em parceria com o setor produtivo e entidades como o Ciesp, articule estratégias de mitigação dos impactos, diversificação de mercados e defesa dos interesses regionais junto ao governo federal.

Jundiaí já provou que sabe se reinventar. Agora, é hora de agir com firmeza e inteligência para que o município não apenas resista ao tarifaço, mas siga crescendo com autonomia e visão global.

Miguel Haddad é ex-prefeito de Jundiaí e ex-deputado federal

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