OPINIÃO

A alegria do meu pai


| Tempo de leitura: 3 min

Ontem mesmo César Traldi me chamou para almoçar, junto com um amigo de papai, dos tempos da Duratex. Eles queriam me relembrar dos hábitos e alegrias que Sr. Geraldo tinha proporcionado a eles. Papai era bom papo, bom vivant, de uma generosidade ímpar, querendo agradar a todos e trazer para perto o convívio de quem encontrasse pela vida. 

Era um sagitariano típico e acho que fui a filha que mais se alegrou e acompanhou suas aventuras. Desde os 3 anos, me levava para voar no Campo de Marte, onde ele fazia o curso de piloto. Voei de hidroavião muito pequenininha e até os 18 anos o acompanhava no Aeroclube de Jundiaí para voar de Tupi ou Paulistinha. Não raro - e eu não podia contar pra mamãe - pegava carona em um ultraleve. É interessante que esse amor pela aviação continuou em mim e continua no meu filho, Ícaro, que sempre voará sem medo de derreter suas asas ao sol.      

Mas sua característica mais plena e a que mais eu sinto falta é de seu otimismo sem fim e sua alegria de viver. Todo sábado me ligava pra saber onde íamos almoçar. Podia ser em SP, com minha amiga Antonietta, que só o levava para o Jardins, mas também podia ser no Mercadão da Ferroviários para comer sua tilápia e beber uma cerveja com a filha. 

Com ele, não tinha tempo quente. Sempre rindo, vendo o lado bom da vida, observando nossos gatos, assistindo à tevê de mãos dadas com meu cachorro, o Leopoldo. Lia muito, todos os jornais, assistia a todos os telejornais e sabia a cotação do dólar do dia, até a hora de sua morte. 

Não há um lugar que eu ande nesse estado que não se lembrem dele. Edinho Silva, presidente do PT, seu amigo querido. Ele foi conselheiro do meio ambiente, em Araraquara. Em SP, onde estava a maior parte de sua carreira de jornalismo, era um querido. 

Outro dia mesmo a Raquel Ballarin me mandou um post de um jornalista que fora pupilo de papai, na Gazeta Mercantil. E ele lembrava da generosidade dele como editor-chefe, que, quando mudava de casa, arranjava emprego para todos seus colaboradores.   

Ele era assim. Dentro e fora de casa. Tinha rodinhas nos pés e eu era obrigada a conter seus impulsos que poderiam ser dirigir até Águas de Lindoia, em velocidade acima do permitido, fazendo com que eu perdesse a minha carteira de habilitação. Ou então querer viajar de Uber, no meio da pandemia. 
Nos últimos anos, morou comigo e fiz do seu quarto meu escritório agora. Quando o cansaço pesa, eu rezo para ele. “Pai, me dá uma luz, a melhor frase, a melhor forma de resolver essa questão, a boa palavra, o acolhimento e a alegria.”

Ele me dá. Em forma de beija-flores que fazem seus ninhos embaixo da janela do seu quarto. 

Meu pai, esse ser excepcional, sempre estará dentro do coração de seus filhos, netos, sobrinhos e grande família.

Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, administração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ. 
   
 

Comentários

Comentários