OPINIÃO

Sem voz onde importa


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Há regiões que crescem em silêncio (produzem, inovam, geram empregos) pois não são ouvidas onde as decisões são tomadas. A Região Metropolitana de Jundiaí (RMJ), composta por sete municípios interligados por laços econômicos, sociais e culturais, é um exemplo claro disso. Com mais de 800 mil habitantes e uma das economias mais dinâmicas do Brasil, seguimos sem representação política consistente na Assembleia Legislativa ou em Brasília.

Enquanto outras regiões se organizam para eleger seus representantes, aqui seguimos dividindo votos entre candidatos de fora, que mal conhecem nossa realidade e desaparecem assim que termina a apuração. E o preço disso é alto: obras paradas, projetos engavetados, falta de investimentos e ausência de voz nos grandes debates estaduais e nacionais.

E olha que a RMJ enfrenta desafios concretos e urgentes: a mobilidade regional é um gargalo: a malha ferroviária, que poderia ser um eixo moderno de transporte de passageiros, segue abandonada. As rodovias que cortam a região, como a Anhanguera, a Dom Gabriel e a Bandeirantes, estão saturadas, com congestionamentos frequentes. A integração entre os municípios é falha, dificultando o deslocamento de trabalhadores e estudantes, e comprometendo a qualidade de vida de quem depende do transporte público. Na saúde, o Hospital São Vicente, em Jundiaí, atende pacientes de toda a região, mas opera no limite. Faltam leitos, profissionais e investimentos em unidades de média e alta complexidade nos demais municípios. Na segurança, a ausência de políticas integradas entre as cidades enfraquece o combate ao crime organizado e à violência urbana. E na área ambiental, a proteção da Serra do Japi, das nascentes e dos mananciais que abastecem nossas cidades exige articulação política e recursos, algo que não se conquista sem representantes comprometidos com o território.

Sem falar do enorme potencial turístico, agrícola e logístico que temos. Jarinu e Itupeva, por exemplo, poderiam estar mais inseridas em roteiros estaduais de turismo rural e ecológico. Cabreúva e Louveira têm vocação para o desenvolvimento sustentável e inovação. Campo Limpo e Várzea Paulista enfrentam desafios sociais que exigem políticas públicas específicas. Tudo isso precisa de voz política, e não de promessas vazias de quem só pisa aqui em época de eleição.

Já tivemos esse protagonismo. Um dos exemplos? Quando Miguel Haddad esteve em Brasília, a região era ouvida. Foi por sua articulação que recursos chegaram para obras viárias, para a saúde e para projetos de desenvolvimento urbano. Ele era um elo entre o território e o governo federal.

Não se trata de bairrismo. Trata-se de responsabilidade. Um deputado da nossa região conhece nossas potencialidades. Um representante daqui tem mais chances de lutar por nós com legitimidade e prioridade, valorizando nossa identidade, nossa força e nosso futuro.

A política começa no voto. E o voto começa no território. Está na hora de pararmos de terceirizar nossa voz. É importante votar em quem vive aqui, conhece nossos problemas e tem compromisso com soluções reais.

Nossa Região Metropolitana de Jundiaí tem tudo para ser protagonista: só falta recuperar sua representação.

Samuel Vidilli é cientista social (svidilli@gmail.com)

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