Muito se fala em governo digital, smart cities, mas a verdade é que no Brasil as experiências ainda são muito incipientes. Caminhamos, mais por conta da necessidade premente de segurança pública, para coletar e monitorar imagens de câmeras em tempo real, com nossas centrais de monitoramento, muito valiosas para combater a criminalidade. Mas usamos muito pouco no dia a dia a IA em prol do cidadão.
Não sei se falta vontade política ou desconhecimento. Imaginem vocês se a IA barrasse licitações cujos produtos não são condizentes com o mercado ou que preços do asfalto estão mais caros do que a média nacional? Mais do que barrar, criar alertas para os tribunais de conta ficarem atentos com a licitação em curso. Ainda mais: banir das licitações públicas aquelas empresas que não concluem obras, aguardando ad infinitum as prorrogações contratuais e seus aditivos orçamentários?
Temos um grande problema com as licitações públicas e não é sobre legislação que estou falando. Temos um processo inconsistente privilegiando más empresas e nunca beneficiando o cidadão.
Outra grave falha no sistema público de saúde é a falta de integração entre prontuários, exames e consultas. Em países europeus, o cidadão é convocado a fazer seus exames de rotina e pode ser penalizado se não comparecer. E não vale ficar pingando de consultório em consultório, pois o sistema barra. Aqui, vemos abusos diários enquanto quem precisa mesmo fica na fila do pronto atendimento. O Brasil precisa investir na prevenção de doenças e não na cura destas.
Há muitos usos para a IA, como a detecção de buracos de rua, flagrantes de depósito de lixo clandestino, monitoramentos em tempo real, mas eu insisto mesmo na utilização de govtechs para a administração pública.
Muitas delas são exitosas e chamo a atenção para as plataformas de marketplace público e de cotação eletrônica; análise preditiva de compras e riscos e desburocratização do relacionamento com fornecedores, gestão inteligente de trânsito e transporte público e muitas outras soluções disponíveis.
Sem falar em um buraco que ninguém quer mexer, a produtividade do funcionalismo público, eficiência em relação ao seu custo para o cidadão. Jundiaí tem um problema seríssimo para os próximos anos, que é o percentual de seu custo orçamentário com funcionalismo. Se não estancarmos esse crescimento, não teremos mais dinheiro para investir. Lembro que há 20 anos, Jundiaí tinha 10% de orçamento próprio para investimento. Hoje, não passa de 2%.
A tecnologia está a nosso favor, não contra. Ficar monitorando necessidades através das queixas do 156, ouvir reclamações vindas de vereadores e redes sociais, não vai levar ninguém a lugar algum. O projeto de governo sempre tem que passar pela eficiência. Com gastos controlados, sobra mais recurso para investir naquilo que o jundiaiense mais precisa, educação e saúde.
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, administração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ.