O Brasil está diante de um momento decisivo. De um lado, temos a decisão dos Estados Unidos de taxar em 50% os produtos brasileiros, dificultando o nosso acesso a um importante mercado global. Isso traz incertezas para o nosso setor produtivo e coloca em risco milhares de empregos.
Do outro lado, temos o Brics, que vem se consolidando como um bloco econômico influente, do qual o Brasil faz parte ao lado de China, Rússia, Índia e África do Sul – e que recentemente ganhou a adesão de novos países, como Egito, Irã e Emirados Árabes.
Ao fechar as portas para o Brasil, os Estados Unidos nos obrigam a olhar com mais atenção para o Brics. A pauta brasileira de exportações é diversificada, reflexo da riqueza dos nossos recursos naturais, da força do agronegócio, da indústria e da produção energética, características que nos permitem olhar para diferentes mercados globais.
Nos últimos dois anos eu fui presidente da Comissão de Relações Internacionais da Assembleia Legislativa de São Paulo. Durante esse período, tive a oportunidade de me aproximar e estabelecer relações com países que formam o Brics, entre eles a China.
Hoje, a China é a maior parceira comercial do Brasil e recebe cerca de 30% de todas as nossas exportações. Vendemos para eles grãos, minérios, carnes e outros produtos. Em troca, importamos tecnologia, equipamentos e insumos fundamentais para o crescimento da nossa indústria.
As relações entre Brasil e China são um exemplo de como duas nações com histórias, línguas e culturas tão diferentes podem construir uma parceria sólida, baseada em interesses comuns, complementaridade econômica, visão de futuro e, principalmente, respeito.
É preciso lembrar que a decisão dos Estados Unidos de taxar os produtos brasileiros carrega um forte viés político, disfarçado de medida econômica. Trump ataca frontalmente a nossa soberania ao dizer que espera uma absolvição dos crimes imputados a Jair Bolsonaro.
Não nos esqueçamos que no dia 8 de janeiro de 2023, o Brasil sobreviveu a uma tentativa de Golpe de Estado. Descontente com o resultado legítimo das urnas, uma multidão invadiu as sedes dos Três Poderes, em Brasília, na tentativa de tomar o poder à força. O plano incluía até mesmo o assassinato e a prisão de autoridades.
Os ministros do STF já sinalizaram que não irão ceder à chantagem de Trump e o julgamento de Bolsonaro seguirá os tramites previstos no Estado Democrático de Direito, o mesmo que ele tentou abolir em sua tentativa fracassada de golpe.
Enquanto Tarcísio de Freitas, governador do Estado de São Paulo, o mais afetado pela taxação dos Estados Unidos, parece perdido em meio à crise, o Governo Federal tem atuado para desatar esse nó. Designado pelo Presidente Lula, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, está à frente de um comitê interministerial para tratar exclusivamente do tema. Caso não haja acordo, caberá a este mesmo comitê discutir alternativas, como a abertura de novos mercados para os produtos brasileiros.
Não estamos falando de virar as costas para o Ocidente. Estamos falando de ampliar horizontes. De abrir mercados. De valorizar a diplomacia multilateral, em vez do alinhamento automático. De defender os interesses do povo brasileiro e dos nossos produtores, da indústria e da agricultura. Eu acredito que o Brics, em especial a China, pode nos oferecer esse futuro.
Mário Maurici de Lima Morais é jornalista. Foi vereador e prefeito de Franco da Rocha, vice-presidente da EBC e presidente da Ceagesp. Atualmente, é deputado estadual e primeiro secretário da Assembleia Legislativa de São Paulo.