Habilitadas, ousadas, aventureiras e responsáveis. As mulheres motociclistas destacam-se pelas estradas não só pela performance em pilotar motos de altas cilindradas, mas por agirem e se comportarem de igual para igual com a consciência e a liberdade sobre duas rodas. Não há um número exato de quantas já possuem a categoria A, carteira que habilita a pilotar motos, mas a realidade é que elas já são muitas entre os grupos e motoclubes.
Aos 44 anos, a publicitária Juliana Roberta Bochini Crepaldi mudou da posição de garupa para piloto. Tomou literalmente as rédeas, ou melhor, o guidão para ela mesma conduzir sua moto e a decisão aconteceu durante uma viagem.
“Eu lembro que em 2013 eu e meu marido fazíamos uma viagem a Foz do Iguaçu. Estávamos só nós dois na estrada e eu na garupa. Fiquei pensando se o Luan passasse mal, como eu ia pedir ajuda ou continuar o trajeto, enfim, precisava tirar a minha habilitação e assim eu fiz. Foi a melhor decisão da minha vida.”
E fez desta necessidade e paixão seu momento de paz e relaxamento. Em 2024, sobre duas rodas, conheceu a Rota dos 7 Lagos, na Argentina. “A viagem durou 30 dias num estilo 100% acampamento onde eu era a única mulher pilotando com meu esposo ao lado. Neste e em vários outros encontros a moto me trouxe a liberdade de viver experiências mágicas a baixo custo.”
Atualmente, à frente de um podcast sobre o universo do motociclista, Juliana também tem um trabalho encorajamento às mulheres que desejam tirar a habilitação de motos. Com viagens carimbadas pelo Sul do país, como Florianópolis, Urubuci e Serra do Rio do Rastro, estradas ícones para os motociclistas, já foi para o Rio de Janeiro e Brasília.
“Incentivo as mulheres a pilotarem, mostro no meu perfil do instagram o meu dia a dia, seja as dificuldades e conquistas. Hoje não enfrentamos mais tantos desafios quanto anos atrás, mas as mulheres seguem quebrando paradigmas e, com movimentos femininos surgindo, temos apoiado umas às outras de forma simples e gratificante.”

Aos 44 anos, a publicitária Juliana Roberta Bochini Crepaldi mudou da posição de garupa para piloto.
Sob a influência do pai, o amor pelas motos começou cedo na vida de Ana Lépori, de 48 anos. Primeiro como garupa da CB 400, moto de 1982, que marcou a infância. Aos 12 anos, começou a pilotar a icônica Caloi Mobylette, mas em 1998, quando comprou sua primeira moto, o desejo por motos cada vez mais potentes não parou mais.
“Comprei minha moto apenas como meio de transporte, mas a motivação e o hobby surgiram algum tempo depois quando meu pai descobriu um câncer e optou por não se tratar. Ele queria qualidade de vida e não quantidade e por isso reuniu amigos motociclistas e fundou um motoclube caindo na estrada e vivendo intensamente por três anos.”
Para o legado do pai, continuou com o grupo descobrindo que a moto de alta cilindrada poderia ser muito mais do que locomoção. “Já estive no Paraná, Santa Catarina, Bahia e Recife. Como todo motociclista apaixonado, tive o privilégio de conhecer algumas das serras mais icônicas do Brasil, como a Serra do Rio do Rastro, Serra do Corvo Branco, Serra da Graciosa e a Serra das Serpentes, entre outras. Costumo passear com o grupo, e às vezes só eu e meu esposo, cada um na sua moto. Cada destino tem uma história única — e a moto me leva até elas de um jeito especial, com liberdade, emoção e boas companhias.”
Enfrentar ou ousar estar em um ambiente tipicamente masculino já não é mais problema para o público feminino. A mulher que pilota é, muitas vezes, mais admirada do que criticada. “Ocupamos nosso espaço com naturalidade, sem precisar provar nada. A estrada é para todos e estamos nela com orgulho, atitude e amor pela liberdade que só uma moto pode dar. Para quem deseja se aventurar, vá sem medo, mas com responsabilidade. Estude, pratique, use os equipamentos certos e respeite seus limites. E, principalmente, aproveite o processo. Pilotar é mais que técnica, é sensibilidade, atenção e entrega.”

Ana Lépori começou a paixão pela alta velocidade aos 11 anos e agora comanda um motoclube em Jundiaí
Ousadia que deu certo
Desde os 11 anos, a gestora empresarial Lika Paes, de 38 anos, sentiu que pilotar uma moto poderia ser algo libertador. Sempre teve vontade de aprender e quando tirou a habilitação o sonho virou realidade. O que poderia ser apenas terapêutico se tornou sua paixão da vida.
“Ser piloto de moto em um ambiente protocolado masculino é um ato de coragem, resistência e transformação. Vai muito além de simplesmente conduzir uma moto. É ocupar um espaço historicamente negado às mulheres, mas fazer isso com firmeza, responsabilidade e personalidade”, comenta Lika que já viajou para Minas Gerais, Santa Catarina e Rio de Janeiro.
Integrante do Lokas MC, o maior motoclube feminino do mundo, ela faz questão de orientar as novas motociclistas que desejam sair pelas estradas, sem temer os olhares, principalmente de outras mulheres. “Não espere permissão para ocupar o espaço que é seu por direito. Comece, mesmo que com medo. Aprenda, mesmo que devagar. Vá no seu tempo, mas vá. Cada vez que você sobe numa moto e assume o guidão, você não está apenas pilotando,está abrindo caminho para outras mulheres.”

“Ser piloto de moto em um ambiente protocolado masculino é um ato de coragem, resistência e transformação", diz Lika Paes