EM BUSCA DO SONHO

Cria do Caxambu conquista o 'outro lado do mundo' com o futebol

Por Luana Nascimbene |
| Tempo de leitura: 5 min
ARQUIVO PESSOAL
Valdir tem passagens como preparador de goleiros por vários clubes, além da seleção tailandesa
Valdir tem passagens como preparador de goleiros por vários clubes, além da seleção tailandesa

O jundiaiense Valdir Bardi, de 40 anos, transformou um sonho de infância em uma carreira profissional. Vivendo do futebol, o preparador de goleiros cruzou fronteiras em busca do objetivo de se firmar na profissão, e, dali em diante, se tornar referência na área e chegar à elite do esporte.

Nascido e criado no bairro Caxambu, em Jundiaí, Valdir tem passagens como preparador de goleiros por clubes da Coreia do Sul, Jordânia, Indonésia, Tailândia - incluindo a seleção principal -, Brasil e Vietnã, onde está atualmente.

A paixão de Valdir pelo futebol começou ainda na sua infância, quando sua mãe o matriculou na escolinha de futebol do clube do Caxambu. “Desde criança eu já tinha um carinho pela posição de goleiro. Quando comecei a fazer futebol na escolinha não queria saber de jogar em outra posição, só embaixo das traves. Minhas maiores referências eram os goleiros do Palmeiras, meu time do coração, como o Marcos e o Velloso”, disse Bardi.

Aos 13 anos, o jundiaiense fez seus primeiros testes em categorias de base e jogou em clubes do interior, como Bragantino e Ituano, até chegar ao Fluminense-RJ. “No Flu eu acabei sendo dispensado por causa da minha baixa estatura, e passei a jogar em times menores. Quando fui perdendo espaço, desisti do sonho de ser goleiro e fui estudar educação física”, contou o jundiaiense.

PRIMEIRA EXPERIÊNCIA

Enquanto cursava a graduação na Esef, Bardi recebeu o convite de um amigo para ser o preparador de goleiros de um clube na Coreia do Sul. “Essa foi minha primeira experiência na área. Aceitei o convite, porque seria uma maneira de colocar em prática tudo o que eu vinha estudando e seria um aprendizado único. E realmente foi uma baita experiência, mas com bastante dificuldade de adaptação”, contou.

Em seu primeiro contato com o futebol asiático, o jundiaiense passou por alguns “perrengues” por causa da difícil adaptação em um país com uma cultura completamente diferente do Brasil. Com apenas três meses de trabalho, Valdir foi dispensado, mas chamado de volta pouco tempo depois e ficou na Coreia por cinco anos. “Por conta das dificuldades fui demitido com pouco tempo e eles iriam trazer outro profissional para o meu lugar. Como essa outra pessoa recusou a proposta, eu mesmo me ofereci para voltar e, mais focado na adaptação dessa vez, acabei construindo uma longa trajetória lá e aprendi muito”, explicou o preparador de goleiros.

Após cinco anos na Coreia do Sul, Valdir voltou a Jundiaí quando o filho estava prestes a nascer e, para não ficar parado, fundou uma academia de goleiros na cidade. Apesar do sucesso do projeto, o jundiaiense precisou fechar a escolinha por questões financeiras, mas seguiu ajudando na formação de novos goleiros com seu blog ‘Voa Goleiro’, onde compartilha experiências e aprendizados com jovens que sonham em seguir a carreira profissional.

DE VOLTA À ÁSIA

Após passar um tempo em Jundiaí com sua família, Valdir foi chamado para voltar a atuar no futebol asiático. Nessa segunda passagem ao continente, o jundiaiense passou pela Tailândia e Jordânia, depois voltou ao Brasil para atuar na categoria de base do Fortaleza, na equipe sub-20. “Depois de passar por outros dois clubes fora do país, recebi o convite para assumir a função de preparador de goleiros do Fortaleza Sub-20, mas pouco tempo depois recebi uma proposta financeiramente melhor, de um clube da Indonésia, e aceitei mais um desafio no futebol asiático”, disse.

Após uma temporada na Indonésia com excelentes resultados, o jundiaiense estava prestes a renovar seu contrato com o clube quando recebeu uma proposta para assumir a preparação dos goleiros na seleção da Tailândia, em 2023. “Foi um convite irrecusável. Ao lado do técnico Mano Polking, com quem já tinha trabalhado antes, fomos campeões da Copa do Rei e disputamos as Eliminatórias da Copa do Mundo, onde vencemos a seleção de Singapura e perdemos para a China”.

Depois da passagem pela seleção tailandesa, Valdir voltou para Jundiaí, onde ficou desempregado por sete meses, até chegar uma nova oportunidade no futebol asiático. Dessa vez, no Vietnã. “Surgiu o convite do Cong An Hanoi, no Vietnã, e a primeira temporada foi um sucesso. Fomos campeões da Copa do Vietnã, vice-campeão da Shopee Cup e terceiro colocado da Liga Vietnamita de Futebol”.

Agora, o desafio da próxima temporada será ainda maior, já que o clube conquistou vaga na próxima edição da Liga dos Campeões da AFC Dois e terá cinco campeonatos ao longo dos próximos 12 meses.

ADAPTAÇÃO E OBJETIVOS

Apesar de estar cada vez mais adaptado ao futebol asiático e às diferentes culturas, Bardi ressaltou que não é fácil se acostumar com as diferenças de outro país, principalmente no dia a dia de trabalho. “Aqui no Vietnã, por exemplo, a adaptação no início foi muito difícil, principalmente por ser um país muito militarizado. Mas em todos os países a cultura é bem distante da nossa, e eu percebo isso na minha rotina de trabalho. Em cada clube que eu passo o limite dos jogadores são diferentes, então o trato e as cobranças têm que ser moldadas de acordo com essas culturas”, explicou o jundiaiense

Um dos facilitadores para Bardi é quando encontra outros brasileiros nos clubes por onde passa e vê o encanto que os estrangeiros têm pelo futebol do Brasil. “Eles têm muito respeito e admiração, realmente gostam do estilo de jogo e características dos brasileiros”.

Além de construir uma trajetória sólida e vitoriosa no futebol asiático, o principal objetivo do jundiaiense é chegar a grandes times da Europa. E para isso, Valdir não parou de estudar e se atualizar nem um dia sequer. “A cada temporada eu me atualizo na profissão, sigo estudando e tirando as novas licenças exigidas pelo mercado. Sinto que nos países da Ásia e também na Europa eles valorizam muito esse conhecimento teórico, e não apenas a parte prática”, completou.

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