OPINIÃO

Óleo da consolação


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As reuniões, às quartas-feiras, da Pastoral da Mulher/ Magdala, têm como foco o Evangelho na misericórdia de Deus.

Na noite de 25 de junho, a passagem escolhida foi de São Lucas (9, 18-24), em que Jesus perguntou aos discípulos quem dizia que era Ele. Pedro respondeu: “O Cristo de Deus’. Depois Jesus falou a todos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem quer perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará”.

Uma das integrantes do grupo, a Teresinha, contou-nos uma experiência que vivera na semana anterior. Estava no ponto de ônibus do bairro onde mora, quando um moço, conhecido na área, com o pé amputado, devido a complicações de drogas ilícitas, começou a pedir que alguém o ajudasse a entrar no ônibus. A noite anterior, permanecera próximo a uma biqueira, gritando para que lhe dessem uma pedra de crack. Abstinência é complicada. A ansiedade sangra. Parece-me que todas as dores já vividas, mais as imaginadas afloram. Alguns partem para a violência para conseguir adquirir a próxima pedra.

Voltando ao ponto de ônibus. As pessoas queriam distância, pois além de incomodar com os inúmeros pedidos, o odor da amputação era forte. A Teresinha, que é franzina, não muito nova de idade, com problemas na coluna, clamou para que alguém o ajudasse. Silêncio e olhares para outro lado. Ela ignorou a própria idade e o cheiro dele. Sustentou-o até o ônibus e ficaram os dois sentados na escadinha. Houve quem franziu o rosto pelo cheiro e a aparência dele. O destino dos dois era o mesmo: a unidade básica de saúde local.

Na semana posterior, avisaram-na sobre o falecimento dele. Disse-nos da paz da consciência por tê-lo ajudado a carregar a sua cruz. Se não o fizesse, ficaria de consciência pesada para o resto da vida. Remorso, no entanto, não é para toda a gente, depende de como foi formado o coração e da claridade da alma.

No sábado, no Evangelho de Mateus (10, 24-33), em sua homilia na Missa no Carmelo São José, nosso Bispo Emérito, Dom Vicente Costa, destacou a colocação de Jesus sobre não termos medo, repetido várias vezes naquele Evangelho: “Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais”. O moço também valia.

Domingo passado, o Evangelho foi do Bom Samaritano (Lucas 10, 25-37). Em sua homilia, no Santuário Diocesano Santa Rita de Cássia, o Padre Márcio Felipe de Souza Alves – Reitor e Pároco -, comentou que “aquele que está caído pelos caminhos é porque fez a experiência da força do mal. E muitas vezes está abaixo do fundo do poço. Ninguém deseja cair, mas muitas vezes confiamos mais em nossa fraqueza do que na força de Deus. E como cristãos somos convidados a viver o segundo Mandamento da Lei de Deus, ou seja, oferecer ao nosso próximo – e nosso próximo é aquele que está derrubado por nossos caminhos – o óleo da consolação e o vinho da esperança. Foi aquilo que fez a Teresinha.

Impossível também não termos feridas e dores e convivermos com quem as tem. Como disse o Padre Márcio Felipe, mas com o óleo da consolação e da esperança superamos e nos tornamos aqueles a quem Jesus afirmou sobre ir e fazer o mesmo que o samaritano.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

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