CASO NA POLÍCIA

'Fui agredido e quase não tive ajuda', diz vítima em Bauru

Por Tisa Moraes | da Redação
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Tisa Moraes
Fotógrafo, Bruno Unikowsky mora em Londres  e está em Bauru para visitar a família
Fotógrafo, Bruno Unikowsky mora em Londres e está em Bauru para visitar a família

Sessenta horas após ser agredido por cerca de dez pessoas na avenida Getúlio Vargas, o fotógrafo Bruno Unikowsky, 35 anos, retornou ao local para refazer o trajeto de sua fuga, em que foi tomado pelo instinto de sobrevivência e de preservar a placa que conseguiu arrancar de uma Amarok pertencente a um dos integrantes do grupo. Na tarde desta terça-feira (15), ele concedeu entrevista ao Jornal da Cidade.

Bruno está assustado com o episódio inédito que atravessou sua vida, mas também atônito com a falta de acolhimento da maioria das pessoas que o viram sendo agredido e, depois, implorando por socorro. "É triste ser agredido e não ter ajuda de quase ninguém. Não precisa tocar, colocar no carro, basta ligar para o 190. A falta de compaixão me deixou bem chocado", diz. Ele mora em Londres, é fotógrafo de moda e está em Bauru para visitar a mãe e o irmão.

Por volta de 4h20 do último domingo, ao sair da casa noturna, Bruno conta que se deparou com uma discussão generalizada e, ao tentar intervir, foi chamado de 'viadinho', entre outras ofensas homofóbicas, por um rapaz. "Comecei a discutir com ele, que era dono da Amarok. Outro veio por trás e me deu um soco na cabeça, quando os demais vieram. Levei chutes e socos, caí, consegui levantar e revidei. Depois, quando tentei fugir, seguraram minha bolsa, que estava presa na transversal do meu corpo, e caí de novo", relembra.

Segundo Bruno, as agressões continuaram e ele só conseguiu se safar ao morder um dos agressores que o segurava. Ao perceber que sua bolsa com passaporte, carteira com cartões e celular havia sido roubada, arrancou a placa da caminhonete para, depois, poder identificar ao menos um dos envolvidos.

A partir disso, Bruno atribui o sucesso de sua fuga ao seu preparo físico, já que frequenta academia, participa de maratonas e pratica esportes. "Corri e eles vieram atrás de mim", conta. No trajeto, o fotógrafo pediu ajuda em um food truck, mas não foi atendido. Em seguida, um rapaz que havia conhecido horas antes chegou e ofereceu carona.

LUTA PELA VIDA

"Quando vi, o carro estava em um terreno baldio (na avenida Odilon Braga, nas imediações da Delegacia da Polícia Federal), eu me apavorei e saí. Comecei a correr naquela área de terra e surgiram dois carros, depois mais dois. Vieram para cima de mim e, como um bicho lutando pela sobrevivência, entrei em um matagal e fui parar atrás da Base da Polícia Rodoviária. Eu me joguei em um buraco onde tinha um mato alto e fiquei lá até o dia clarear", detalha.

Então, Bruno atravessou a passarela sobre a Rondon, com a cabeça sangrando e pedindo socorro, sem êxito, até encontrar três ciclistas que pedalavam na rodovia. O grupo chamou uma ambulância, mas a vítima, assustada com alguns carros que passaram pelo local, decidiu seguir pela pista marginal até a avenida Nações Unidas.

No meio do caminho, deparou-se com a ambulância e abordou a equipe. "Eles pararam e um deles perguntou o que tinha acontecido. Contei e ele pediu para que eu entregasse a placa da Amarok. Eu perguntei se iriam me ajudar ou não, porque não entregaria a placa, e ele riu. Então, fui embora, pedindo socorro, tocando interfones das casas, mas ninguém ajudou. Cheguei na casa da minha família perto de 8h e, mesmo quando entrei no elevador, tinha uma pessoa saindo e não me acudiu", lamenta.

Levado à UPA Bela Vista, Bruno recebeu três pontos na testa e teve luxação na região das costelas. Após exames no Hospital de Base, está com suspeita de um coágulo entre o cérebro e o crânio, que está sendo monitorado. Ele não sofreu outras lesões graves, mas apresenta hematomas e ferimentos leves em várias partes do corpo. A bolsa com seus pertences, com exceção do celular, foram encontrados perto da casa noturna e devolvidos nesta terça-feira à vítima. O caso é investigado pela Polícia Civil, que já identificou três dos envolvidos.

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