Caro leitor, devido aos últimos acontecimentos, resolvi escrever está coluna com o objetivo de informação para que algumas coisas sejam esclarecidas.
Bem, o autismo, tecnicamente chamado de Transtorno do Espectro Autista (TEA), é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta a forma como a criança percebe o mundo, se comunica, interage e responde a estímulos. Para compreendê-lo, é essencial olhar para o cérebro – o órgão que orquestra todas as nossas ações, emoções e pensamentos.
O cérebro de uma criança com autismo não é “defeituoso” ou “menor”; ele é diferente. Essa diferença começa ainda na gestação, com alterações na forma como os neurônios se organizam, se conectam e se comunicam. Estudos com neuroimagem mostram que há uma atividade cerebral atípica em diversas áreas, como o córtex pré-frontal (ligado ao planejamento e à tomada de decisões), a amígdala (relacionada às emoções) e o hipocampo (memória e orientação espacial).
Uma das principais características neurológicas do autismo é a chamada "conectividade neural atípica". Isso significa que, em algumas regiões, os neurônios se comunicam demais; em outras, de menos. Essa irregularidade pode explicar porque algumas crianças com TEA têm hiperfoco em certos assuntos, dificuldades em mudar de rotina ou interpretar pistas sociais.
Outro ponto importante é a sensorialidade. Muitas crianças com autismo apresentam uma resposta exacerbada ou diminuída aos estímulos sensoriais: barulhos, cheiros, toques, luzes. Isso ocorre porque os sistemas cerebrais que filtram e interpretam esses estímulos funcionam de maneira diferente, podendo causar sobrecarga sensorial e comportamentos como balançar o corpo ou cobrir os ouvidos.
A linguagem também costuma ser afetada. A área de Broca (produção da fala) e a área de Wernicke (compreensão) podem apresentar desenvolvimento desigual. Algumas crianças são não verbais, enquanto outras desenvolvem linguagem com ecolalias (repetição de frases) ou com um vocabulário restrito.
Caro leitor, é importante frisar que o autismo é um espectro. Isso significa que não há um único “modelo de cérebro autista”, mas múltiplas manifestações. Enquanto algumas crianças podem ter habilidades excepcionais em áreas como matemática ou música, outras podem ter dificuldades significativas em tarefas do dia a dia. Cada cérebro é único – e isso também é verdade no autismo.
Compreender essas diferenças não é apenas um desafio científico, mas um convite à empatia.
Quando entendemos que certos comportamentos não são birras, mas respostas neurológicas, podemos acolher melhor e apoiar o desenvolvimento de crianças com autismo de forma respeitosa, personalizada e eficaz. Afinal, o cérebro autista, apesar de funcionar de modo diferente, é tão valioso quanto qualquer outro. Pense nisso.
Micéia Lima Izidoro é professora (miceialimaizidoro@gmail.com)