PÓS COVID

Sonhos e comportamentos transformados pós-pandemia

Por Simone de Oliveira | JORNAL DE JUNDIAÍ
| Tempo de leitura: 5 min
Samuel Souza/JJ
O engenheiro civil e empresário Luiz Paulo Machado perdeu funcionários e os pais durante a pandemia, porém deu a volta por cima
O engenheiro civil e empresário Luiz Paulo Machado perdeu funcionários e os pais durante a pandemia, porém deu a volta por cima

Da pneumonia misteriosa à doença que matou cerca de 6 milhões em todo o mundo, sendo 600 mil no Brasil e 1,9 mil em Jundiaí, a Covid-19 espalhou-se de forma devastadora, mudando vidas, rotinas e pessoas. Cinco anos após o primeiro anúncio da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que não faltam são histórias, algumas nem sempre com final feliz, mas muitas que servem de exemplos quanto à mudança de vida e de posicionamento.

Estamos profundamente preocupados com os níveis alarmantes de disseminação e gravidade, bem como com os níveis alarmantes de inação no mundo. Consideramos que a covid-19 pode ser qualificada como uma pandemia”. Esta foi a frase do então presidente da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciando em março de 2020 a epidemia da Covid.

Com números ainda não oficiais da doença, acredita-se que foram quase 40 milhões de infectados no Brasil. Jundiaí também não foi poupada e as restrições e mudanças começaram a partir do atendimento aos doentes. Nos últimos cinco anos, por exemplo, o Hospital São Vicente, referência na época para as internações, passou por mais de 25 adequações estruturais e operacionais para garantir que o paciente ficasse desassistido e que os profissionais atuassem em condições seguras.

“A ampliação da capacidade de internação, a reorganização dos fluxos assistenciais e a realocação de setores foram essenciais para atender a alta demanda sem comprometer a qualidade da assistência. Alguns, inclusive, permanecem até hoje como o Visita Virtual, o ‘Parabéns para Você’ para pacientes internados no dia de seu aniversário, e a Visita de Despedida para familiares em situações delicadas. Essas ações passaram a fazer parte da rotina do hospital por contribuírem diretamente com a humanização do atendimento”, lembra o infectologista Marco Aurélio Cunha de Freitas.

A pandemia, segundo Freitas, impulsionou o fortalecimento da capacitação contínua das equipes para oferecer treinamentos presenciais e on-line, abordando desde cuidados técnicos até protocolos específicos para situações emergenciais.

“O hospital investiu na formação de novos profissionais, preparando técnicos em enfermagem para atuar de maneira eficaz mesmo em um cenário de crise. Mesmo com a pandemia sob controle, o hospital reforça a importância de manter medidas de prevenção e cuidados com a saúde, principalmente em ambientes hospitalares e em situações de risco. A experiência vivida ao longo da crise sanitária deixou lições valiosas sobre a importância da vigilância constante e da responsabilidade coletiva.”

A pandemia impulsionou o fortalecimento da capacitação contínua das equipes para oferecer treinamentos presenciais e on-line

Aprendendo a recomeçar

Aos 64 anos, o engenheiro civil e empresário Luiz Paulo Machado, referência no meio do entretenimento e da gastronomia, teve muitas perdas durante a pandemia. Mais que as financeiras, as humanas o fizeram refletir sobre a continuidade dos negócios que tocava em Jundiaí há quase 40 anos. Em um depoimento emocionado, Machado conta que não imaginava que a ‘gripe’ levaria amigos, pais e negócios que sustentavam tantas famílias. 

Apesar da retomada logo após a liberação das autoridades para que o comércio reabrisse as portas, a pausa inicial foi necessária. “Voltar não foi fácil, mas necessário. Aquela gripe, que ninguém sabia do que se tratava, foi devastadora para todos nós. Perder as pessoas que estavam comigo há anos não foi nada fácil”, diz emocionado.

A gripe que Machado cita, começou a incomodar algumas pessoas que trabalhavam com ele, entre elas, a secretária e a chef de cozinha. As mortes das colegas de trabalho aconteceram em um curto período, momento inclusive em que ele mesmo estava hospitalizado, justamente se tratando da covid. Não conseguiu se despedir de nenhuma delas. Os pais, idosos, também não resistiram à doença. 

“Foram sonhos interrompidos e por isso tivemos que repensar o que fazer. Voltamos até pouco tempo depois, fizemos outra pausa e agora voltando com tudo. Sei que muitos não tiveram nem a chance de recomeçar, mas aprendemos com as perdas, porque muitas pessoas dependiam de nós”, conta.

Para a chef de cozinha e empresária Ana Cristina Ferreira, de 42 anos, houve a necessidade de mudança de comportamento para evitar o fechamento das portas e a dispensa de funcionários. Para manter o atendimento no restaurante, apelou para todos os canais possíveis e a entrega de alimentos se tornou o carro-chefe.

“No começo, foi um desafio, já que a demanda crescente nos impulsionou a aumentar o número de funcionários e mudar todo o sistema de atendimento que tínhamos anteriormente. Claro que a mudança nos ajudou, porque, após a pandemia, o movimento foi crescendo gradativamente, mas notamos muitas mudanças no hábito de consumo dos clientes. Os pedidos para delivery aumentaram e a busca por comida saudável e de qualidade. Assim, fomos nos transformando para nos adaptar às necessidades do mercado”, diz Ana Cristina que não presenciou óbitos em sua equipe.

Ana Cristina Ferreira, de 42 anos, precisou mudar para evitar o fechamento das portas e a dispensa de funcionários

Prevenção continua

Orientações como manter a carteira de vacinação atualizada, higienizar frequentemente as mãos, utilizar máscaras em caso de sintomas respiratórios e procurar atendimento médico ao menor sinal de agravamento continuam válidas e essenciais para proteger a si mesmo e aos outros.

Segundo o infectologista Marco Aurélio Cunha de Freitas, no auge da pandemia, o hospital criou canais de comunicação diretos com os familiares, acompanhou pacientes após a alta hospitalar e ampliou o suporte multiprofissional, mostrando que o cuidado vai além do momento da internação. Mudanças que permanecem até hoje. “O acompanhamento contínuo de pacientes e a comunicação clara com a comunidade seguem sendo estratégias importantes para evitar novos surtos, garantir um atendimento mais eficaz e preservar a saúde pública”, relata. 

Atitudes que também permanecem para quem viveu o terror da pandemia.”Rever os amigos e vê-los aqui no restaurante depois da abertura foi satisfatório apesar de tudo que passamos. Eu fiquei uma semana separado da minha família antes de ser internado. Hoje, sei bem o valor da vida e agradeço por estar aqui contando minha história”, diz Luiz Paulo.

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