OPINIÃO

Luto: a dor que só é sentida por quem passa por ela


| Tempo de leitura: 2 min

Caro leitor, em meio à tantas perdas que acompanhamos diariamente, resolvi falar sobre o luto.

Bem, o luto é uma das experiências mais universais e, ao mesmo tempo, mais solitárias da existência humana. Quando alguém que amamos parte, não levamos apenas sua ausência física: levamos também o peso do que ficou por dizer, os planos interrompidos e a saudade que insiste em doer todos os dias. O luto é a resposta emocional à perda. Mas, mais do que isso, é um processo profundamente humano que nos convida a ressignificar a vida diante da dor.

Cada pessoa vive o luto de uma forma única. Para alguns, ele se apresenta como um choro incontido. Para outros, como um silêncio prolongado, um torpor que adormece os sentidos. Há quem busque respostas na espiritualidade, enquanto outros se voltam para a razão ou para o trabalho. Não existe um modelo certo para sofrer — e tampouco um tempo ideal para "superar". O que existe é o caminho de cada um, com suas curvas, pausas e recaídas.

Vivemos em uma sociedade que, muitas vezes, não sabe lidar com a dor do outro. Espera-se que, após alguns dias ou semanas, a vida siga normalmente. Mas o luto não obedece ao relógio. Ele não se desfaz com o tempo, apenas muda de forma. Se no início é tempestade, mais tarde pode se tornar garoa persistente — aquela que molha devagar, sem alarde, mas que nunca nos deixa totalmente secos.

Há também os lutos invisíveis: a perda de um animal de estimação, de um emprego, de um relacionamento, de uma fase da vida. São dores que, por vezes, não recebem a devida legitimidade social, mas que podem ser tão intensas quanto a morte física. Cada perda carrega um pedaço do que éramos — e é natural que precisemos nos reconstruir diante disso.

Caro leitor, é  preciso falar sobre o luto. Dar nome à dor. Permitir-se sentir. Procurar apoio quando necessário. O luto não é fraqueza, é amor que ficou sem morada. E, por isso mesmo, ele merece espaço, escuta e acolhimento. A psicologia nos ensina que elaborar o luto é permitir que a ausência encontre um lugar dentro de nós — um lugar que não machuca tanto, mas que honra a memória de quem se foi.

Em tempos de perdas coletivas, como os vividos recentemente em tragédias, pandemias ou guerras, o luto ganha contornos ainda mais profundos. Nesses momentos, a empatia e a solidariedade se tornam pontes entre os que choram. A dor, quando compartilhada, não desaparece, mas se torna mais leve de carregar.
 
Falar de luto é falar de vida. Porque só sofre quem amou, e só sente saudade quem viveu momentos verdadeiros. O luto nos lembra da nossa finitude, mas também da nossa capacidade de amar, de cuidar e de continuar. Que possamos aprender a conviver com a dor sem nos calar. E que, mesmo entre lágrimas, encontremos formas de recomeçar.

Micéia Lima Izidoro é professora (miceialimaizidoro@gmail.com)

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