TRABALHO ESCRAVO

Trabalhador 'salvo' de escravidão moderna bebia água envenenada

Por Leonardo de Oliveira | da Redação
| Tempo de leitura: 2 min
Divulgação/Ministério Público do Trabalho
Casebre onde vivia o trabalhador resgatado em Santo Antônio da Alegria, na região de Franca
Casebre onde vivia o trabalhador resgatado em Santo Antônio da Alegria, na região de Franca

Um trabalhador rural foi resgatado em situação análoga à escravidão em uma fazenda de café no município de Santo Antônio da Alegria, a 105 km de distância de Franca. A ação ocorreu na quarta-feira, 2, e foi conduzida pelo MPT (Ministério Público do Trabalho), após denúncia formalizada à instituição. De acordo com os procuradores, ele bebia água contaminada por veneno.

O homem, que não teve a identidade revelada, atuava de forma informal há cerca de 10 anos. Durante todo esse período, morava em um casebre improvisado dentro da propriedade rural. O imóvel, segundo o MPT, estava em condições degradantes: sem forro, com fiação elétrica exposta, botijão de gás instalado dentro da casa, e ausência de itens básicos de higiene e segurança.

Além das condições precárias de moradia, o trabalhador consumia água de uma mina próxima à lavoura. Segundo ele, o veneno usado na plantação era descarado próximo à fonte e, por vezes, a água tinha sabor amargo, o que pode indicar contaminação por agrotóxicos.

O procurador Gustavo Rizzo Ricardo, coordenador da Conaete (Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas), esteve pessoalmente no local e constatou as irregularidades.

Ele classificou o caso como “flagrante” de trabalho escravo moderno. “Durante uma década, o trabalhador nunca teve férias. Viveu em condições degradantes e chegou a consumir água envenenada. São violações graves de direitos humanos e trabalhistas”, afirmou.

O homem era remunerado por diária, sem registro na carteira de trabalho. Em casos de doença ou acidente, segundo o MPT, ficava sem qualquer pagamento. Em uma das ocasiões, ao machucar o joelho, teria recorrido à ajuda de familiares para conseguir se alimentar.

Após o flagrante, o MPT firmou um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) com o empregador, que se comprometeu a pagar R$ 50 mil em verbas rescisórias e R$ 10 mil em indenização por danos morais. Os valores serão quitados de forma parcelada, e a primeira parcela já foi paga.

O trabalhador foi levado até a cidade vizinha de Altinópolis, onde regularizou sua situação bancária para receber os pagamentos. De lá, embarcou em um ônibus rumo à capital paulista, onde ficará hospedado com um irmão.

“É lamentável constatar que o trabalho escravo ainda resista no estado mais rico do país, com o maior PIB nacional. O Ministério Público continuará atuando com firmeza no interior de São Paulo para combater essa chaga social e promover políticas públicas de prevenção”, concluiu o procurador, via assessoria de imprensa.

O nome do empregador não foi divulgado. O caso segue sob investigação.

Comentários

2 Comentários

  • Darsio 03/07/2025
    Agro é pop, agro é tec. Agro é desmatamento. Agro é contaminação. Agro é isenção fiscal. Agro é destino de bondosos subsídios. Agro é trabalho escravo!!!! Não se deve generalizar, mas não há dúvidas de que essas considerações se aplicam a muitos agropecuaristas. Há alguma dúvida de que o fazendeiro é bolsonarista? Aliás, se Bolsonaro estivesse no poder, certamente a Lei Áurea já havia sido revogada.
  • ira 03/07/2025
    que dor,meu Deus, nessa epoca, uma pessoa,viver assim 10 anos,