OPINIÃO

A FIFA decreta: nenhum time tem Mundial 


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Era previsível: a FIFA, em seu material de promoção da Copa do Mundo de Clubes 2025, apresentou os clubes participantes e seus títulos conquistados. E como ela quer valorizar esse torneio atual, chamado por muitos de “Super Mundial”, solicitou recentemente que os detentores dos direitos de transmissão não o chamassem de “Mundial de Clubes”, mas de “Copa do Mundo de Clubes”.

Ora, se ela faz isso, e criou uma competição de 4 em 4 anos aos moldes da Copa do Mundo de Seleções, era provável que ela chamaria o vencedor de “Campeão do Mundo”. E como só quem ganha a Copa do Mundo de Seleções é Campeão do Mundo, idem à versão clubes.

E os demais Mundiais realizados?

Taí a narrativa modificada: A FIFA não reconhece mais os campeões de outros torneios não realizados por ela como “Campeões do Mundo”. Quando a montadora de carro japonesa (que organizava o Intercontinental) começou a patrocinar esse novo modelo de Mundial a partir de 2005, a FIFA começou a chamar a antiga Copa Toyota de “torneio continental equivalente a um Mundial” à época.

Agora, tudo mudou de novo. Ninguém tem mais Mundial! O primeiro time oficialmente campeão do mundo será conhecido neste ano. E todos os demais torneios realizados anteriormente ganharam um novo nome: competições interconfederações!

Assim, o Palmeiras de 1951 e o Fluminense de 1952 (segundo a própria FIFA) são campeões interconfederações. O Santos de Pelé, quando disputou a Copa Europa – América do Sul (1962 e 1963), idem. O São Paulo FC, que venceu a Copa Toyota UEFA – Conmebol (1992 e 1993), também. E o próprio SPFC, o Corinthians e o Internacional, que venceram o chamado “Mundial de Clubes da FIFA”, não são mais mundiais, mas interconfederações.

O critério é simples: torneios que envolvam clubes de confederações diferentes e de repercussão mundial são interconfederacionais. Campeão Mundial, até agora, não existe, pois não houve um torneio com esse propósito nos moldes criados como Copa.

Obviamente, os torneios realizados anteriormente, eram intercontinentais e representavam o Campeão Mundial (os melhores da UEFA e os melhores da Conmebol). Depois, quando a FIFA resolveu organizar, incluíram outros continentes. E, agora, para “fazer vingar” a Copa do Mundo de Clubes, se reclassificou tudo.

Em 1951 e 1952, a FIFA não organizou os torneios e fazia vista grossa a eles. Nas décadas de 60, 70 e 80, a organização não foi dela, mas das confederações. Nos anos 90, quando a Toyota resolveu patrocinar esse torneio, ganhou ainda mais atenção. E nos anos 2000, a FIFA, como se fosse um cartório, “bateu o carimbo” de que o que valia era só o que ela fazia.

Alguém é maluco em dizer que Santos x Benfica não foi uma final do mundo? Que o Flamengo de Zico não foi Campeão Mundial? E tantos outros clubes?

Nessa nova contagem, o Real Madrid é o maior vencedor interconfederacional: 9 títulos, pelos diversos organizadores.

Assim, vale perguntar: quem será o primeiro e verdadeiro Campeão do Mundo reconhecido pela FIFA?

Independente de toda essa confusão, vale ressaltar: o torneio é muito legal... confrontos de escolas diferentes, partidas impensáveis dias atrás (eu achei absurdamente fantástico Fluminense x Borússia Dortmund, onde os cariocas surpreenderam e dominaram os alemães). Também foi muito bacana o clima criado: de Copa, de paixão, de festa!

Com tudo isso, vencer a Libertadores ou a Liga dos Campeões da Europa torna-se algo ainda mais valorizado. E a globalização dos clubes, só aumenta. E uma verdade seja dita: os clubes brasileiros, não tão conhecidos no estrangeiro por muita gente, ganham notoriedade.

Vida longa a essa Copa!

Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)

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