FEMINICÍDIO

Grupo literário busca justiça por Taís, assassinada em Jundiaí

Por Redação |
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Arquivo pessoal
Adélia conheceu Taís no clube de leitura. Viraram grandes amigas e chegaram a viajar juntas para a Bienal
Adélia conheceu Taís no clube de leitura. Viraram grandes amigas e chegaram a viajar juntas para a Bienal

De diferentes estados do país, amigas de Taís Bruna de Castro, de 36 anos, se uniram em busca de justiça após o assassinato da atendente, morta com mais de 20 facadas no trabalho em Jundiaí, no dia 2 de junho. Ligadas pelo amor aos livros, elas se conheceram em um clube de leitura e hoje compartilham a dor, a indignação e o medo diante do feminicídio. As amigas criaram o movimento #justicaportais

"Eu conheci a Taís através do Clube da Carina (Clube de leitura por assinatura). Ficamos muito amigas e depois criamos o nosso próprio clube", contou Alexia Silva, a Leka, de Cabo de Santo Agostinho (PE). "No dia do crime, mandei mensagem e ela não respondeu. Mais tarde vi a publicação do irmão e entrei em choque. Quando li a notícia, não conseguia acreditar no que estava acontecendo", conta.

As amigas mantinham contato diário. "Falávamos de livros, mas também de tudo na vida", lembra Bruna Azevedo. "Ainda é surreal pensar que uma menina tão boa e gentil tenha partido de forma tão cruel."

Para Louise Melo, de Fortaleza (CE), o choque veio logo após o grupo ser avisado. "Eu ainda falei com a Taís no dia do crime, por volta das 11h. Ela nem conhecia esse homem. Fico revoltada. Hoje, mulheres não têm paz".

Além da dor, há o medo de impunidade. "Meu maior receio é o acusado alegar insanidade e sair ileso. A justiça no Brasil é uma piada", desabafa a amiga Bruna.

Jaqueline Borges, de Campina Grande (PB), lembra do jeito doce da amiga. "Ela sempre tinha uma palavra de fé e esperança", diz a amiga. Para ela, o crime é revoltante justamente pela injustiça da situação. “Taís não morreu por dizer ‘não’, porque sequer foi cortejada. Ela virou alvo por ser doce, meiga por ser quem era. Minha sede de justiça é porque ele fez isso com uma grande amiga, mas pode fazer com qualquer outra mulher também. E isso é inaceitável”.

Adélia Silva, do Rio de Janeiro, conheceu Taís em 2023 por meio do clube de leitura “Lendo e Papeando”, mediado por ela e por Alexia. A afinidade foi imediata. “Ficamos bem próximas por termos gostos e jeitos parecidos. Conversávamos todos os dias sobre tudo”, conta. Em 2024, viajaram juntas para a Bienal do Livro em São Paulo e passaram três dias que Adélia descreve como inesquecíveis. “A doçura que ela tanto amava nos romances, ela carregava nas pessoas. Era tímida, cuidadosa, preocupada com tudo desde um post no Instagram até uma tarefa no trabalho.” A notícia da morte veio no fim do dia 2, horas depois de conversarem sobre a leitura atual de Taís. “Ela sonhava em encontrar alguém, mas não estava procurando. Saber que teve a vida interrompida de forma tão dura ainda me assusta”.

Kaliany Simões que conheceu Taís na pandemia, destacou o medo constante da amiga com a violência contra mulheres. "Ela sonhava com o amor, mas tinha medo de aplicativos e encontros às cegas. Preferia esperar."


A indignação fez com que o grupo mobilizasse campanhas nas redes sociais para pressionar a Justiça. "Queremos que o caso se torne público para que ele não seja solto. Infelizmente, muitos homens que matam mulheres continuam em liberdade", disse Alexia.

O crime ocorreu em um complexo comercial de Jundiaí, onde Taís trabalhava como atendente de uma agência de viagens. Ela também produzia conteúdos literários na internet e sonhava em ampliar seus projetos de leitura. O acusado, Cláudio Elizeu, de 40 anos, foi preso logo após o crime.

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