OPINIÃO

A Jundiaí provinciana 


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Acompanhei a divulgação do IPS Brasil (Índice de Progresso Social), em que Jundiaí ficou em terceiro lugar no ranking nacional de 2025, com nota 70,7 em uma escala que vai até 100. Acho que merecemos este ranking. Somos uma cidade linda, limpa, com preservação ambiental e eu tenho orgulho de ter nascido aqui e morar em nossa cidade.

Este mérito, entretanto, vem sendo desenhado lá atrás, ainda na década de 60, com os arquitetos Antonio Panizza, Araken Martinho, Eduardo Pereira, que estudaram a cidade e desenvolveram seus vetores de crescimento, através da criação do Plano Diretor. Eduardo ainda foi e é um arquiteto que retrata a história da imigração italiana e é um defensor - briguento - do nosso patrimônio cultural. Além disso, soubemos represar nossa água, construímos áreas de recuperação de mata ciliar e despoluímos o Rio Jundiaí.

Somos o que somos pelo nosso passado, é verdade. E é óbvio que temos enormes desafios - principalmente para levar serviços aos bairros mais afastados e fazer com que a gestão pública seja equânime entre todos. Já passou da hora de incentivarmos govtechs para melhorar nossa relação com o cidadão, trazendo à luz da IA novas soluções mais eficientes para a saúde, educação e mobilidade urbana.

Dito isso, o foco deste artigo era pra falar como somos uma cidade “jeca”. E me orgulho disso também. Quando vou caminhar na Av. Imigrantes ou no Parque da Cidade, recebo sempre “bom dia”, em rostos alegres e receptivos. Se eu parar no posto da esquina, ainda posso bater um papo com as pessoas que estão ali.

Quando vou conversar com alguém, sempre me perguntam de que família eu sou, onde cresci, a escola que frequentei. Jundiaí tem essa cara de cidade grande, mas não é não. É província. E as suas mazelas, não temos padaria aberta após as 21h, não temos um lugar para dançar depois da meia-noite e raramente se escutam músicas nos bares após 23h. Outro dia, quis jantar às 22h, tudo fechado. A cidade operária levanta cedo.

Antigamente não era assim. Meu irmão frequentava o Bar Zé do Papagaio. Eu, o Dobrão, Chico’s Bar, o Grêmio, a Domingueira, no Clube. A cidade tinha mais vida noturna e podíamos voltar dos bares, rindo, pelo Centro, sem medo.

Eu adoro a jequice daqui. Não troco por nada. Só não podemos deixar de apoiar nossa cultura local e ver florescer novos dançarinos, instrumentistas e atores. Para que isso aconteça, precisamos repensar atividades no entorno da Sala Glória Rocha e Polytheama para trazer luz, vida e alegria de volta à região central. E, me desculpem, mas a gente que trabalha até tarde tem direito a um cafezinho e pão de queijo às 22h.           
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, administração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ.  

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