OPINIÃO

Bebês Reborn: um pedido de ajuda por trás de uma falsa vida


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Querido leitor, mediante tantos acontecimentos envolvendo mulheres e sua dedicação aos seus "Filhos Reborn", me senti motivada a escrever esta coluna a respeito deste assunto.

Bem, sempre tive o desejo de ser mãe e quando recebi o tão esperado positivo, é claro que as minhas pernas bambearam e o meu marido ficou sem reação, pois era um sonho nosso e esse positivo era muito esperado há 6 anos, então, quando ao descobrirmos que seríamos pais, uma mistura de felicidade, ansiedade e preocupação tomou conta de nós. Seríamos responsáveis por uma pequena vida que dependeria única e exclusivamente de nós para viver: para se alimentar, para ter a sua saúde física e mental em dia, suas necessidades emocionais supridas, enfim, como pais, tínhamos o dever de cuidar dessa pequena vida que viria. 
       
Então, 9 meses depois, seguramos em nossos braços a nossa pequena felicidade (não tão pequena assim: 4.788 kg e 52 cm). E agora, o que faríamos, o que esperaríamos? Bem, 6 anos se passaram e aprendemos muito com o nosso pequeno, bem como continuamos aprendendo. É fácil? Não. Cuidar de uma vida tão preciosa requer dos pais, mães ou responsáveis dedicação total. Requer disposição física, mental, emocional, enfim, não importa a idade, um filho sempre será a nossa máxima prioridade. 
    
Caro leitor, com base no que lhe descrevi a respeito da minha experiência pessoal e que muitas mulheres e casais passam, eu comecei a pensar a respeito desse frisson que está tomando conta da nossa sociedade nesses últimos dias. Comecei a me questionar a respeito dessa necessidade tão repentina que essas mulheres estão apresentando em mostrar ao mundo que os seus "bebês reborn " existem e que possuem direitos tanto quanto um ser humano provido de carne, osso, sangue e vida de 0 a 2 anos de idade.
      
Confesso que essa comoção me preocupa e não é pouco. O Brasil é o país dos memes e, como não poderia ser diferente, a internet está lotada de memes a respeito, bem como, esse assunto está fazendo parte de stand-ups de comédia, vídeos virais e imagens que trazem humor e deboche. 
       
Mas, enquanto a zoeira toma conta, eu me preocupo com a saúde mental dessas mulheres. Há tantos fatores envolvendo tudo isso...
     
Enquanto muitos enxergam como mulheres que "não têm louças para lavar" ou que não são mulheres com o 'juízo normal", eu enxergo mulheres que possuem um vazio emocional na área relacionada à maternidade. Eu enxergo uma menina que teve o sonho de ter uma boneca e que, por diversos fatores, não teve. Eu enxergo um pedido de ajuda, eu enxergo um vazio que apenas essas mulheres possuem. Eu enxergo um medo na maternidade tradicional (com um bebê verdadeiro), mas que esse sonho esteja sendo realizado através de uma boneca (o). Eu enxergo uma menina que não foi acolhida como filha e que deseja realizar o sonho da maternidade sem as responsabilidades de "gente grande" como sentir as dores e amores da gestação, o parto, as noites sem dormir, as trocas de fralda, a amamentação e seus desconfortos, as cólicas dos primeiros meses de vida. Isso, sem contar as compras de fraldas que serão realmente usadas, as fórmulas ( caríssimas) para os bebês que não são amamentados com leite materno.
      
Enfim, a maternidade tradicional é cheia de desafios e que perduram por toda a vida. Filho é para sempre, não importa a idade. Eles sempre serão os nossos bebês (mesmo que tenham 50 anos ou mais).
   
Mas, a questão que lanço aqui é a seguinte: como essas " mães reborns " farão quando toda essa euforia acabar? Simplesmente jogarão os seus "bebês " em algum canto do guarda roupa, no fundo de uma gaveta, jogarão fora como um brinquedo qualquer? 
    
Essas " mães " não merecem ser motivo de piada. Essas mulheres merecem acolhimento. Pense nisso.

Micéia Lima Izidoro é professora (miceialimaizidoro@gmail.com)

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