OPINIÃO

O mistério da porcelana videira


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Sempre que posso, busco na internet informações sobre Jundiaí. Nasci e vivi minha vida inteira aqui, e a cidade — com sua história rica e muitas vezes esquecida — sempre me fascinou.

Recentemente, durante uma pesquisa por rótulos antigos de vinhos locais, deparei-me com um achado curioso: uma jarra à venda em um antiquário paulistano, datada de 1960, fabricada pela “Porcelanas Videira – Jundiaí”. Nunca tinha ouvido falar dessa cerâmica, o que imediatamente despertou minha curiosidade.

Tentei encontrar mais informações sobre a empresa, mas não encontrei nada além da própria jarra. Liguei para o antiquário, mas também não souberam me dar qualquer detalhe adicional. Ainda assim, decidi comprar a peça e endereçá-la ao Museu Histórico e Cultural de Jundiaí, no Solar do Barão, onde hoje ela pode ser apreciada por quem, como eu, se interessa pela história local.

Iniciei então uma busca mais ativa: perguntei a amigos mais velhos, pessoas que conhecem profundamente o passado da cidade — mas nenhum deles sequer ouvira falar da tal Porcelana Videira.

Foi quando recorri ao Evanir Fossen, que infelizmente já nos deixou, mas era, para mim, uma das maiores memórias vivas de Jundiaí. Sempre que me deparava com enigmas como esse, era a ele que recorria — e quase sempre com sucesso. Porém, desta vez, nem mesmo ele conhecia essa fabricante.

Mas nossas conversas nunca eram em vão. Evanir me contou que o Vale do Rio Jundiaí foi, em tempos passados, riquíssimo em um tipo de argila ideal para a produção de porcelana. Segundo ele, havia inúmeras cerâmicas espalhadas pela cidade até meados do século passado.

Lembrou também de um fenômeno interessante: muitos operários dessas empresas, ao se aposentarem ou serem desligados, abriam pequenas oficinas de porcelana artesanal. Eram negócios modestos, montados nos quintais ou garagens de casa, geralmente com uma pequena placa na entrada e um ou dois funcionários. Essas micro fábricas estavam espalhadas por toda a cidade — e não era raro se deparar com uma delas em qualquer bairro.

“Talvez a Porcelana Videira tenha sido uma dessas,” concluiu.

Gostei de saber disso. Não conhecia esse aspecto do desenvolvimento industrial da nossa cidade, mas ele me lembrou os tempos em que operários das grandes metalúrgicas, ao se aposentarem, montavam pequenas oficinas em casa para continuar torneando peças sob encomenda — uma tradição de continuidade e reinvenção do saber técnico.

E assim sigo: ainda em busca de mais informações sobre a misteriosa Porcelana Videira. Mas, enquanto isso, a jarra permanece como um pequeno vestígio de uma história maior — talvez perdida, talvez à espera de ser reencontrada.

Francisco Carbonari é ex-secretário de educação de Jundiaí (fjcarbonari@gmail.com)

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