O Brasil convive há décadas com um dos maiores entraves ao seu pleno desenvolvimento: o analfabetismo funcional. Nada menos que 29% dos brasileiros adultos se enquadram nessa categoria – mesmo percentual de 2018 –, conforme a nova edição do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf). Ou seja, quase um terço dos brasileiros só sabe ler e escrever palavras e frases simples e não é capaz de compreender, por exemplo, uma notícia de jornal. Entende apenas informações familiares, como uma receita ou um recibo de supermercado. Esse tipo de deficiência compromete não só o indivíduo, mas também o progresso social e econômico do país.
O analfabetismo funcional é silencioso. Atinge adultos que foram alfabetizados de maneira precária ou que abandonaram os estudos precocemente. Mesmo com a expansão do acesso à educação no país, a qualidade do ensino permanece uma preocupação central. Os resultados de avaliações como o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e a ANA (Avaliação Nacional da Alfabetização) apontam que muitas crianças terminam os primeiros anos do Ensino Fundamental sem dominar habilidades básicas de leitura e escrita. Isso cria um ciclo vicioso: crianças que não aprendem corretamente tornam-se adultos com grandes dificuldades de inserção no mundo do trabalho, da cidadania e da cultura.
Neste cenário, o Sesi-SP exerce um papel social importante para auxiliar a reverter esse quadro. Por meio de programas gratuitos como a EJA (Educação de Jovens e Adultos) e o Programa de Alfabetização Responsável (PAR), o Sesi-SP tem contribuído de forma significativa para mudar realidades e abrir novos caminhos para adultos, bem como garantir que as crianças sejam alfabetizadas na idade certa.
A Nova EJA do Sesi-SP, por exemplo, oferece a possibilidade de conclusão do Ensino Fundamental (anos finais) e do Ensino Médio, com uma abordagem moderna e flexível: 80% das aulas são a distância e 20% presenciais. Essa metodologia permite que trabalhadores possam retornar aos estudos. Além disso, a parceria com o Senai-SP na EJA Profissionalizante agrega um diferencial importante, integrando educação formal com qualificação profissional em áreas como Recursos Humanos, Costura, Operação de Computadores e Logística. Isso aumenta significativamente as chances de empregabilidade e geração de renda para esses alunos.
Outro ponto de destaque é o reconhecimento de saberes, metodologia que valoriza o conhecimento adquirido fora da escola, reduzindo o tempo necessário para concluir os estudos e valorizando a trajetória de vida dos alunos.
Já o Programa de Alfabetização Responsável (PAR) é uma importante iniciativa voltada à infância, com foco na formação de professores e gestores da rede pública do Estado de São Paulo. O objetivo é garantir que todas as crianças sejam alfabetizadas na idade certa, ou seja, até o final do 2º ano do Ensino Fundamental. O PAR fornece formação continuada e materiais didáticos, alinhando teoria e prática com base em evidências pedagógicas que realmente funcionam.
Diante da magnitude do problema do analfabetismo funcional, esta pauta precisa ser abraçada não só pelo poder público, mas por todos. É essencial que organizações como o Sesi-SP continuem ampliando sua atuação social e educativa, colaborando com municípios, escolas e famílias na construção de uma sociedade mais equânime. Investir em educação de qualidade, desde a infância até a vida adulta, é chave para romper com ciclos históricos de exclusão e garantir que todos tenham direito ao conhecimento, à dignidade e à cidadania.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)