OPINIÃO

O peso da maternidade


| Tempo de leitura: 3 min

A experiência de ser mãe, englobando desde o período da gestação e os primeiros anos de vida do(s) bebê(s) tem o potencial de ser uma experiência das mais transformadoras para a mulher, ainda que não seja a única oportunidade destas “metamorfoses” acontecerem.

Por que a maternidade acaba sendo tão profunda e avassaladora? Ora, ela se faz presente em praticamente todos os níveis de expressão da mulher, desde o físico, passando pelo emocional, mental e até mesmo espiritual. Em outras palavras, mudanças intensas em um tempo (de vida) razoavelmente curto, o que impacta bastante em todas que passam pelo processo. Vamos a alguns exemplos?

Os hormônios típicos da gestação dão flexibilidade à musculatura do útero e da pelve para receber uma nova vida, mas geram também “frouxidão” em tendões e ligamentos em outras partes do corpo, levando um certo tempo para serem compensadas depois do nascimento do bebê. Até que isso ocorra, é comum que as mães relatem uma sensação de “frouxidão” e fraqueza muscular em todo o corpo.

Ocorrem mudanças de metabolismo também, onde estruturas consumidas (cálcio dos ossos, e a própria medula que forneceu o substrato para o aumento do volume sanguíneo circulante) precisam reestabelecer-se e órgãos que aumentaram suas demandas na gestação (rins, fígado, coração) precisam ser recalibrados nas suas tarefas na vida “comum".

A “nova” mãe acaba sentindo todas essas mudanças como se o corpo estivesse fraco ou estranho, algo “fora do seu lugar”. Não para aí, já que a mulher está experimentando a crise de separação do bebê que sempre foi “seu”, tal como uma extensão sua, um pedaço do próprio corpo.

Ao mesmo tempo que ela se encanta ao ver o “ser humaninho” ganhar autonomia e se reconhecer como indivíduo, ela vê a união deles dois, inicialmente (até) física, ficar mental, depois energética e cada vez mais sutil e rarefeita aos sentidos (ainda que nunca desapareça). Que contraste de emoções!

Agora, incrível mesmo é que a maioria absoluta das mães, quando perguntadas, não trocaria nem um segundo dessa transformação mágica, por nada que se possa oferecer para elas honestamente. Nem as que foram “pegas” de surpresa pela maternidade e nem as que enfrentaram problemas de saúde ou relacionais em decorrência dela.

Espero que vocês, estimados leitores(as), que ao verem o título do artigo logo pensaram o quão denso e cheio de responsabilidades é a maternidade, que inegavelmente tem o seu aspecto de verdade, se surpreendam agora ao ver a leveza que ela assume, desde que seja vivida dia a dia, com a bênção e o sacrifício que lhe são inerentes (pois são “duas faces da mesma moeda”), mas nada além. Perguntem a qualquer mãe que queiram, além das suas próprias: o saldo é sempre positivo.

Então rogo que todos nós participemos também da maternidade, protegendo-a, deixando-a livre de julgamentos e suas culpas, de expectativas e suas frustrações, tão presentes na sociedade fria e distante que vivemos hoje.

Deixemos que ela seja o mais simples e sagrado, tal como a natureza a planejou, originalmente. Afinal, mães trazem bebês ao mundo, mas a própria maternidade faz nascer o amor acolhedor que nos inclui a todos em uma só família, a Humana.


Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura médica e com formação em osteopatia e medicina chinesa (xan.martin@gmail.com)

Comentários

2 Comentários

  • Sueli Pronunciate 09/05/2025
    Realmente tudo isso. Você me fez lembrar dos flamingos, li uma vez que elas perdem a cor rosa durante a maternidade e cuidado intenso aos filhotes e só volta depois de um tempo, quando eles crescem... Demoramos também um tempo para nos reencontramos e voltarmos a nos ver além da maternidade...
  • Vanda Nardelli de Oliveira 09/05/2025
    Maravilhoso!?? Como sempre! Gratidão!