O impacto do atual ciclo de elevação dos juros sobre o setor produtivo é substancial. Com a previsão de a Selic seguir subindo na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana e terminar o ano em 15%, as consequências são conhecidas: comprometimento do investimento, da geração de empregos e da capacidade de crescimento das empresas brasileiras.
O Banco Central reconhece que os efeitos sobre as empresas serão fortes, embora mais moderados do que o verificado na recessão de 2015-2016. Segundo o Relatório de Estabilidade Financeira do BC, publicado na semana passada, o aperto da política monetária iniciado em setembro de 2024 já pressiona a capacidade de pagamento de empresas e famílias.
A alavancagem corporativa está elevada, e o índice de cobertura de juros (ICJ) — métrica que mede a capacidade das companhias de pagar seus encargos financeiros — caiu de maneira expressiva. Embora o cenário ainda seja melhor do que na recessão da década passada e na crise da covid-19, a capacidade de pagamento das empresas deverá cair significativamente. O BC aponta ainda que a rentabilidade das empresas tende a ficar abaixo do observado durante a pandemia, num ambiente em que o custo de captação continuará subindo.
Em relação às famílias, deve-se ressaltar o contexto atual positivo e que vem surpreendendo com melhora da renda, do emprego e do nível de atividade. Mesmo nesse ambiente favorável, o comprometimento de renda das famílias está historicamente alto – e em elevação. E subiu em praticamente todas as faixas de renda.
Na publicação, o BC lembra que o ambiente externo permanece desafiador em razão da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente pela incerteza acerca das diretrizes comerciais do governo Trump e de seus efeitos. Neste contexto, sobressaem as dúvidas sobre os ritmos da desaceleração e da desinflação e, consequentemente, sobre o crescimento nos demais países.
Em função deste cenário turbulento, começaram a surgir especulações de que o Banco Central encerraria o ciclo de alta juros mais cedo. Porém, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, tem reiterado que as expectativas de inflação ainda estão desancoradas e que é preciso aguardar a política monetária surtir todo o efeito. Por isso, a expectativa de anúncio de novo aumento de juros nesta quarta-feira 7.
As consequências de taxas altas por tanto tempo são muito danosas para o setor produtivo. A consultoria Alvarez & Marsal calculou o impacto da Selic elevada: até 2030, o custo adicional com juros para as empresas deverá ser de R$ 126 bilhões, sendo R$ 26 bilhões já em 2025. Com base em dados de 1.130 companhias e quase quatro mil títulos de dívida, o estudo estima que metade das empresas listadas na bolsa brasileira já não gera caixa suficiente para cobrir os encargos financeiros. E isso considerando empresas de capital aberto, que, em teoria, são as mais robustas. O cenário para as pequenas e médias, como se pode imaginar, é ainda mais severo.
A política de juros altos, embora tenha razões macroeconômicas legítimas — como o controle da inflação —, precisa ser calibrada com mais sensibilidade para não estrangular a base produtiva. O risco é claro: ao sufocar o investimento e a geração de caixa das empresas, o país compromete não apenas o presente, mas o futuro de sua economia.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)