OPINIÃO

FMI: ambiente global altamente imprevisível


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O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou, na semana passada, a edição mais recente do relatório World Economic Outlook (WEO) no qual faz uma análise da economia mundial. No documento, a instituição revisou significativamente para baixo – em comparação com a previsão anterior, de janeiro – suas projeções de crescimento econômico global e para o Brasil nos anos de 2025 e 2026.

Para a economia mundial, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) previsto para 2025 caiu de 3,3% para 2,8% e a expectativa para 2026 recuou de 3,3% para 3%. Segundo o FMI, essa redução se deve, em grande parte, à intensificação de políticas comerciais protecionistas, “refletindo tarifas efetivas em níveis não vistos em um século e um ambiente altamente imprevisível.”

A guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos, que escalou particularmente com a China, elevou substancialmente o nível de incerteza. Para o Fundo, posições políticas divergentes e em rápida mudança ou a deterioração das condições podem levar a uma situação financeira global ainda mais restritiva.

No entendimento do FMI, o acirramento das disputas comerciais e a maior incerteza na política comercial podem prejudicar ainda mais as perspectivas de crescimento a curto e longo prazos. Da mesma forma, a redução da cooperação internacional pode comprometer o progresso rumo a uma economia global mais resiliente.

Para o Brasil, a estimativa para o crescimento do PIB foi reduzida de 2,2% para 2% em 2025 e 2026, refletindo uma combinação de fatores internos, como o aumento da dívida pública, e desafios externos, como a desaceleração do comércio internacional e o aumento das tensões geopolíticas.

O FMI projeta que a dívida bruta brasileira, atualmente em 87,3% do PIB, deverá alcançar 92% ao longo do ano, podendo se aproximar de 100% do PIB até 2029, caso não haja mudanças significativas na política fiscal. O aumento contínuo da dívida gera preocupações quanto à sustentabilidade das contas públicas e à capacidade do país de manter a confiança dos investidores.

O relatório destaca ainda que, no cenário internacional, a desaceleração econômica impulsionada por uma onda de medidas protecionistas mina o fluxo global de bens e serviços. Como consequência, o comércio mundial, que já vinha em ritmo lento, pode se retrair ainda mais, afetando diretamente países em desenvolvimento que dependem de exportações, como o Brasil.

Além disso, o FMI alerta para os riscos de fragmentação da economia global, com blocos comerciais se reorganizando em torno de alianças políticas e estratégicas. Esse cenário de incerteza, combinado a taxas de juros ainda elevadas em diversas economias, torna o ambiente menos favorável para investimentos e crescimento sustentável.

Apesar do tom cauteloso, o Fundo ressalta que reformas estruturais e políticas fiscais responsáveis podem mitigar os efeitos negativos a médio prazo. Para o Brasil, isso inclui fortalecer o arcabouço do fiscal e racionalizar os gastos tributários, uma vez que os benefícios fiscais que já superam 7% do PIB, considerando os subsídios concedidos pela União e pelos Estados.

Em suma, o panorama traçado pelo FMI sinaliza um período de desafios econômicos significativos, tanto para o Brasil quanto para o restante do mundo. O crescimento moderado, os riscos fiscais e o cenário internacional volátil exigirão decisões estratégicas dos governos para evitar uma desaceleração mais profunda e garantir a estabilidade macroeconômica.

 

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)

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