A Páscoa não é apenas uma data no calendário, mas sobretudo, um convite. Um chamado suave para que possamos nos lembrar da importância de renascer dentro de nós. Em meio aos coelhinhos, ovos de chocolate e mesas comidas típicas, há um simbolismo antigo, quase sussurrado, que nos convida a olhar com mais profundidade para a vida, para o corpo e para a alma.
O Sábado de Aleluia, muitas vezes esquecido ou tratado apenas como um dia entre dois feriados, é um espaço simbólico poderosíssimo que representa o intervalo entre a dor e a esperança, entre a morte e a vida, entre o que foi e o que está por vir. É o silêncio fértil onde o novo começa a brotar. E esse espaço é o que mais se aproxima do que chamamos de saúde integral: aquele momento em que conseguimos estar presentes no agora, mesmo com tantas transformações à nossa volta.
E é curioso como, ao mesmo tempo que a Páscoa celebra o renascimento, ela também nos seduz com o excesso. O excesso de comida, de açúcar, de pressa, de distração. O chocolate virou protagonista, e não há mal algum em saboreá-lo com afeto, afinal, o chocolate também carrega carinho, tradição e partilha. Mas é importante lembrar que tudo o que nos desconecta da nossa essência pode, aos poucos, adoecer o corpo e a mente.
O açúcar, consumido em excesso, não impacta apenas a balança, como sempre alerto a todos vocês. Ele influencia profundamente o nosso estado emocional, nossa clareza mental e até nossa disposição física. Ele ativa processos inflamatórios, interfere na regulação hormonal e nos coloca em uma espécie de montanha-russa emocional que rouba nossa energia vital. Além disso, nos afasta de um estado de escuta interna, nos deixando mais reativos, ansiosos e cansados, tudo aquilo que nos impede de viver com consciência e presença.
Mas falar de saúde vai muito além da bioquímica do corpo. Saúde é quando corpo, mente, emoções e espírito estão em diálogo. É quando conseguimos ouvir o que o corpo precisa, o que a mente está pedindo, o que as emoções estão revelando e o que a alma está tentando nos lembrar. E essa escuta profunda é o que nos permite viver com mais leveza e propósito.
Nesta Páscoa, que tal fazer uma pausa? Uma pausa real. Não apenas para descansar do trabalho ou dormir um pouco mais. Mas uma pausa para respirar com consciência, para caminhar devagar, para sentir o corpo, observar os pensamentos e acolher as emoções, sem julgamento. Uma pausa para se reconectar com o que realmente importa.
O coelho da Páscoa, símbolo de fertilidade e abundância, nos lembra da potência de criar e de renovar. Os ovos, tradicionalmente pintados à mão antes de ganharem sabor de chocolate, representam o nascimento, o início e a esperança. E o chocolate, quando consumido com presença, pode ser parte desse ritual de afeto, conexão e celebração, não de ansiedade e culpa.
A saúde nasce das nossas escolhas. Não das perfeições inalcançáveis, mas da coerência entre o que sentimos, pensamos, fazemos e escolhemos. Nasce da nossa capacidade de silenciar por dentro para escutar o que a vida está pedindo. E muitas vezes, o que ela pede é bem simples: mais presença, mais verdade, mais leveza.
Que esta Páscoa seja, então, um tempo de reconexão com a sua natureza mais íntima. Que possamos renascer em escolhas mais conscientes, em gestos mais amorosos. Que o corpo se mova com mais liberdade. Que a mente encontre mais espaço. Que as emoções fluam com mais autenticidade. E que o espírito, essa centelha que nos move e sustenta, encontre morada em cada atitude das nossas rotinas. Muita saúde a todos. Com presença, saúde e um doce sabor de recomeço.
Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)