OPINIÃO

'Salve Silva!' (Parte 3: A Marcha)


| Tempo de leitura: 3 min

"Atenção: Esse é um conto de ficção em quatro partes escrito por mim, Felipe Schadt. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência."

...
 
Silva entrou em uma churrascaria completamente lotada de pessoas vestidas de verde e amarelo. A maioria empresários, religiosos, membros da Acibem e entusiastas de primeiro escalão.

- Amigos patriotas, em uma semana, a esquerda assumirá o país com os seus bandidos e cúmplices. As instituições faliram e estão lá bajulando os carrascos do nosso Brasil. Mas nós não aceitaremos. Nós somos o povo e é do povo o poder de uma nação - gritos de "Salve" aconteciam aqui e ali. - E para tomar o nosso poder de volta das mãos dos esquerdistas, precisamos marchar! Eles não darão de bom grado, a democracia nesse país já se mostrou ser uma novela de mal gosto... Não há outro caminho a não ser tomar o poder à força!
 
Os gritos de "Salve" ficaram mais altos. Silva continuou.
 
- Amanhã, marcharemos rumo ao Palácio Guanabara e o tomaremos. Será a partir dali, da primeira capital de nossa república, que iniciaremos um novo tempo no Brasil. Será o primeiro passo para uma nova era política na nossa nação, o começo da Novíssima República!
- Salve Silva! Salve Silva! Salve Silva!
 
Completamente tomada de carros, a rua Paissandu dava acesso direto à parte da frente do palácio. Foi dessa rua que Silva, membros da Acibem e apoiadores que sabiam do plano, desceram dos seus automóveis e, de braços dados, marcharam juntos rumo ao Palácio Guanabara.
 
Na linha de frente estava Silva e mais oito homens da Acibem, quatro de um lado e quatro do outro. Atrás deles, mais milicianos e no fim da fila, os apoiadores mais fieis. Na primeira fila, Silva empunhava a bandeira do Brasil enquanto os oito homens do seu lado seguravam uma faixa escrita "Deus, Pátria e Família", servindo como um escudo para os nove da frente. Logo atrás, o resto da milícia vinha de mãos vazias, enquanto a última linha impunhava dezenas de celulares em transmissões ao vivo para toda a internet. Só havia uma pessoa fora do lugar. Um adolescente que estava na frente da primeira linha filmando tudo de uma perspectiva diferente. Enquanto filmava, ele falava com as milhares de pessoas que o acompanhavam na live.
 
Chegaram no portão de acesso do palácio e Silva pegou um megafone de um miliciano que estava atrás dele.
 
- Atenção! Viemos salvar o Brasil! Queremos entrar no Palácio e assumir o controle a partir de agora. Não estamos sozinhos, há milhões de cidadãos de bem nos assistindo ao vivo e nos apoiando. A voz do povo é a voz de Deus e Deus quer que entremos!
 
Um policial militar que estava na guarita que fica à esquerda do palácio saiu solitário para ver o que estava acontecendo. Junto com ele, várias cabeças apareceram nas janelas dos prédios da arborizada rua Pinheiro Machado.
 
- Patriota! - disse Silva para o policial. - Não queremos de maneira nenhuma te ferir. Queremos apenas salvar a nossa pátria e você pode nos ajudar. Iremos entrar!
- Não posso permitir isso.
Silva avançou, sempre junto com os oito homens do seu lado e atras da faixa "Deus, pátria e família". Encurralado, o policial tirou a arma do coldre e apontou para a massa liderada por Silva que, não parou.
 
Um barulho seco ecoou pelos prédios e um grito seguido de uma massa de verde e amarela  correndo de maneira histérica foi a sequência da cena. Nas janelas, as pessoas continuavam olhando e ali no chão, na calçada, Silva estava ensanguentado com a faixa suja de sangue aos seus pés e a bandeira do Brasil na ferida causada pelo tiro.

Os homens da Acibem não reagiram contra o policial. Ao invés disso, foram socorrer Silva que tentava se manter de pé. Três viaturas da polícia chegaram na sequência e Silva ordenou para os seus homens que fugissem.
 
Os policiais saíram da viatura com armas em punho e renderam Silva. O rapaz que estava filmando tudo de perto, mostrava o horror da cena enquanto agradecia os comentários de apoio.
 
Silva estava sendo algemado e preso pela polícia do Rio de Janeiro.

... [Última parte na próxima coluna]

Conhecimento é conquista.


Felipe Schadt é jornalista, professor e cientista da comunicação (felipeschadt@gmail.com)

Comentários

Comentários