Jundiaí é conhecida como a "Cidade das Crianças", mas será que essa fama ainda se sustenta? Dados recentes indicam que o número de idosos supera o de crianças. Dos 443 mil habitantes, 18,6% são de pessoas com mais de 60 anos, ou seja 77,7 mil pessoas, enquanto temos somente 8% de crianças abaixo de 6 anos. No Cadastro Único, cujos 41,1 mil cadastrados recebem apoio governamental para suprir necessidades básicas, Jundiaí demonstra ter 6,6 mil idosos em vulnerabilidade social, enfrentando dificuldades de mobilidade, acesso a serviços públicos e, em alguns casos, a solidão.
A advogada atuante em direito de família e idosos, Cintia Almeida, explica que o Estatuto do Idoso garante direitos fundamentais, mas muitas dessas garantias ainda enfrentam desafios na aplicação. "Direitos como transporte gratuito, prioridade em atendimento e proteção contra abusos são previstos na lei, mas precisam ser fiscalizados e implementados de forma efetiva", ressalta.
Ela também aponta que o abandono de idosos pode configurar crime, conforme prevê o Estatuto. "Muitas famílias não sabem que, caso deixem de prestar assistência a um idoso que necessite de cuidados, podem ser responsabilizadas judicialmente. O ideal é que haja mais campanhas de conscientização sobre esses direitos e deveres."
Atendimento hospitalar
A coordenadora do Núcleo de Experiência do Paciente do Hospital São Vicente de Paulo (HSV), Caroline Alves Vieira, destaca que o atendimento a idosos vulneráveis é essencial para garantir seus direitos. "Hoje, temos 67 pacientes idosos internados nas enfermarias do hospital. Desses, apenas um encontra-se em situação de vulnerabilidade social, mas esse número pode variar", explica. "Nosso papel é garantir que essas pessoas tenham acesso aos seus direitos e não fiquem desamparadas após a alta hospitalar."
O atendimento do serviço social aos idosos em situação de vulnerabilidade social e fragilidade familiar é essencial para garantir dignidade e qualidade de vida a essa população. "O Serviço Social do HSV atua diretamente no acolhimento, na escuta qualificada e na articulação de recursos para suprir as necessidades desses pacientes", afirma Ana Caroline.
O primeiro passo no atendimento é a identificação da situação do idoso. "Muitas vezes, esses pacientes chegam com poucas informações sobre sua história de vida ou sem qualquer referência familiar. Nesse contexto, trabalhamos na busca ativa de familiares ou responsáveis legais, quando possível, e na regularização da documentação pessoal", explica.
Além disso, os assistentes sociais desenvolvem estratégias para garantir que o idoso tenha acesso aos direitos fundamentais, como benefícios sociais, aposentadoria, assistência médica e psicológica.
"Nos casos em que não é possível encontrar familiares ou responsáveis que possam assumir os cuidados do idoso, o Serviço Social do HSV trabalha na viabilização de acolhimento institucional, seja por meio da rede pública ou de organizações parceiras. O objetivo é garantir que o idoso não fique em situação de desamparo após a alta hospitalar, prevenindo o abandono e assegurando um local seguro para sua permanência", afirma a coordenadora.
Eles querem e precisam ser vistos
Moradora do Jardim Tamoio, Socorro Sousa ressalta a dificuldade de deslocamento dos idosos para serviços públicos. "Se a prefeitura desse uma van para levar os idosos ao CRAS, ajudaria muito. Muitos têm dificuldade de locomoção e dependem do transporte público, que nem sempre é acessível", afirma. "Idoso andar de ônibus não é fácil, ainda mais para quem tem problemas nas pernas ou dificuldades motoras."
A falta de estrutura pública também preocupa Socorro. "Eu não tenho família, sou sozinha no mundo. Para mim, Deus e o posto de saúde são tudo. A ampliação do postinho do Jardim Tamoio ajudaria muito, porque falta agente comunitário para atender a região", relata.
A Prefeitura de Jundiaí informou, em nota, que oferece diversos serviços para a população idosa, como os Centros de Convivência do Idoso e os Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. "Nosso objetivo é proporcionar um envelhecimento ativo, saudável e autônomo, além de oferecer espaços de convivência familiar e comunitária", diz o comunicado.
No entanto, a gestão municipal reconhece que não há um projeto específico para idosos com transtornos mentais, indicando que esse público deve ser encaminhado à Secretaria de Saúde.
Novo abrigamento
A Casa de Nazaré, instituição sem fins lucrativos que acolhe crianças e adolescentes encaminhados por determinação judicial — em situações de risco pessoal e/ou social, como negligência, abandono, maus-tratos ou orfandade — também se prepara para ampliar sua atuação com a criação da Casa Lar. Um novo projeto voltado ao acolhimento digno e humanizado de idosos que perderam vínculos familiares ou se encontram em situação de vulnerabilidade.

Casa Lar oferecerá acolhimento digno a idosos em situação de vulnerabilidade
A expectativa é que 2025 marque o início do funcionamento da Casa Lar, que depende da viabilização de recursos financeiros. O projeto prevê a criação de residências adaptadas, nas quais até oito idosos compartilham o espaço com o suporte de cuidadores e uma equipe técnica especializada. "A ideia da Casa Lar é proporcionar um ambiente mais próximo do conceito de lar", explica Maria Aparecida Silva, responsável pela Casa de Nazaré. "O objetivo é oferecer não apenas abrigo, mas também autonomia e qualidade de vida."
Além disso, a proposta busca fomentar a convivência intergeracional, promovendo o encontro entre idosos e crianças em atividades conjuntas. "Os idosos poderão ensinar, compartilhar histórias e aprender com as crianças. Isso é muito importante para manter o sentido da vida", afirma.